[PR] Curso de Psicologia da UFPR sofre com falta de professores

O atual nível de precarização no curso de Psicologia da UFPR expressa-se principalmente pela falta de professores. O limite recomendado pelo MEC, 18 alunos por professor, é cumprido se analisarmos somente dados brutos. Mas, olhando um pouco mais de perto, vemos que entre estes dados figuram professores afastados (que não dão aulas) ou substitutos (que não ocupam cargos administrativos, não realizam projetos de extensão, monitoria em ICs ou monitorias para estágios obrigatórios). Por conta disso, a realidade é caótica.

Em síntese, o curso de psicologia conta com 30 professores, três normalmente ficam afastados para realização de capacitação (pós-doutorados e afins). Hoje, há ainda dois professores afastados por licença não remunerada, sobrando 25 professores titulares para cerca de 400 alunos. Essas 5 vagas foram preenchidas com professores substitutos, que normalmente atrasam em 60 dias o início de suas aulas devido o processo de contratação, e por conta de seus contratos provisórios também acabam abandonando seus cargos no meio do semestre, sem alternativa de substituição.

Resultado: nas primeiras três semanas de aula o curso de psicologia da UFPR chegou a ter 22 turmas fechadas por falta de professores, tudo isso gerado por problemas na contratação de substitutos, e afastamentos por motivo de saúde. Sem contar que a baixa no número de professores implica em falta de vagas para disciplinas obrigatórias, um problema crônico que impede a maioria dos alunos de se formarem no tempo regular.

Além disso, o Núcleo de Concursos (NC) da UFPR não seguiu as regras do edital para distribuir os calouros em suas respectivas turmas. Isso levou a um reajuste de turmas na terceira semana de aula, corrigindo o erro do próprio NC, e invertendo o período de aulas de alguns alunos no meio do semestre. Os alunos já tinham provas marcadas e grupos para trabalhos, mas, mais importante, já estavam trabalhando fora ou em estágios remunerados, situação generalizada perante a precária política de assistência estudantil na UFPR. 

Vale destacar que o caráter integral do curso de psicologia retira qualquer possibilidade de trabalhar e estudar sem atrasar sua formação. Além disso, esses calouros foram obrigados a largar disciplinas ou seus trabalhos por conta de um erro do NC. E a questão da falta de vagas em disciplinas obrigatórias é dada majoritariamente pelo manejo da pandemia, em que os alunos de 2020 e 2021 foram unificados para a “melhor administração do curso/ensino”, mas que agora cria um cenário de bomba-relógio pela falta de professores para orientação em monografias e estágios obrigatórios.

Somado a isso, professores que ocupam cargos de Chefia de Departamento, Coordenação do Curso e Coordenação da Pós Graduação também não podem assumir cargos em comissões administrativas. Há uma professora que ocupa cargo no Conselho de Curadores da universidade, cargo administrativo que demanda mais de 20h (mensais) e também a impede de participar de alguma das 30 comissões existentes no curso. Isso impõe que parte do trabalho administrativo seja redistribuído entre 21 professores, professores que também ocupam cargo de presidência ou suplência em alguns Comitês da universidade, como o de Pesquisa do Setor de Saúde ou Extensão do Setor de Ciências Humanas.

Os professores da psicologia também são convidados/convocados a ministrar matérias em outros cursos da universidade e consequentemente compor o colegiado destes cursos, sendo possível citar os seguintes cursos: Engenharia Elétrica, Engenharia Química, Engenharia Civil, Odontologia, Terapia Ocupacional, Administração, Enfermagem, Nutrição. Cursos que por vezes possuem turmas com mais de 60 alunos, enquanto na psicologia o limite máximo é de 45 alunos por turma. Essa sobrecarga de trabalho para os docentes refletem para o corpo discente no cenário catastrófico existente e que tende a piorar.

Por fim, a falta de investimentos também afeta o espaço físico da Universidade. Na Psicologia, há salas de aula com mofo, infestação de formigas e moscas, vazamentos que atingem gabinetes de professores, banheiros sem trancas, vasos sanitários sem tampas, falta de materiais para higiene e falta de acessibilidade, principalmente em casos de emergência.

Após a Ocupação da Santos Andrade em 2022, os estudantes conseguiram arrancar a solicitação de contratação de, no mínimo, 2 professores junto a PROGEPE, mas esta voltou atrás dizendo que as contratações são impossíveis, pois há outros cursos com prioridade por estarem ainda mais precarizados, mas, sobretudo, não há cenário de contratação devido a ausência de investimentos na educação em nível federal. Pelo contrário, existe a possibilidade de perder ainda mais professores, devido uma mudança institucional, em trâmite, que regulamenta que professores que se aposentam não abrirão novas vagas dentro do curso: as vagas seriam redistribuídas pela Universidade segundo a ordem de necessidade dos cursos mais precarizados.

Esta constante gestão da crise não resolve os problemas, apenas vai deixando que os estudantes desistam aos poucos, sobrando apenas a parcela que não precisa trabalhar para se manter na Universidade ou que pode arcar com vários anos extras de graduação. Em suma, o projeto de precarização primeiro elitiza a Universidade, restringindo seu acesso às massas, em um gradual processo de privatização, que inicia-se pelas vendas de patentes de pesquisa (o que já ocorre) e de partes dos campi (o que foi barrado pelos estudantes em 2019), até a completa privatização por cobrança de mensalidades (proposto pela última vez em 2022). A situação da precarização no curso de Psicologia exige a luta conjunta dos estudantes do curso, mas também de toda a UFPR, pois faz parte de um plano maior de sucateamento.

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