[RO] Viva o histórico 6º Encontro Rondoniense dos Estudantes de Pedagogia em Ariquemes

Nos dias 25, 26 e 27 de novembro de 2022 ocorreu na cidade de Ariquemes/RO o VI Encontro Rondoniense de Estudantes de Pedagogia, com tema “Abaixo os cortes de verbas e a privatização da Universidade! Revogação Imediata da BNC-FP e do “novo” Ensino Médio: Pelo Direito de Ensinar, Estudar e Aprender!” sediado do Campus da UNIR de Ariquemes. Participaram massivamente quatro regiões: Porto Velho com 34 estudantes, Guajará-Mirim com 32 estudantes, Rolim de Moura com 15 estudantes, e Ariquemes com 22 estudantes. Durante toda a construção do evento a comissão organizadora travou grande luta com a burocracia universitária, tendo sido informada seis dias antes do início do encontro que as delegações de Rolim de Moura e Porto Velho não teriam ônibus para participar do evento.

A partir disso, a conversa com as delegações teve exitosos encaminhamentos, com uma grande mobilização para conseguir transportes e garantir a participação desses estudantes. Ida a escolas, prefeitura, órgãos do governo e paralelo a tudo isso uma grande arrecadação para garantir o aluguel dos transportes caso nada desse certo. Os estudantes de Rolim de Moura garantiram o transporte um dia antes com a prefeitura da cidade, Porto Velho conseguiu arrecadar mais de dois mil reais (R$2.000) em um dia para custear o ônibus da delegação, pagando mais de R$3.000 pelo transporte, também um dia antes do início do encontro. Comprovando que a burocracia universitária sempre tentará boicotar a organização independente e combativa que ousa lutar, mas que a juventude com unidade e organização dá solução aos problemas que surgem.

Por conta das longas distâncias e estradas ruins do Estado de Rondônia, as delegações precisaram se deslocar com um dia de antecedência rumo à cidade de Ariquemes. Guajará-Mirim saiu pela manhã e chegou apenas no fim da tarde, Porto Velho e Rolim de Moura saíram durante a tarde e chegaram no fim da noite ao local. Um delicioso lanche foi servido, e as delegações foram alojadas e orientadas quanto a banho e cronograma de início do evento pela manhã.

Já no dia 25 pela manhã, foi servido o café da manhã e feito o credenciamento. O evento foi oficialmente iniciado com a mesa de abertura e saudação das delegações, o regimento interno do encontro com as regras de funcionamento e horário de silêncio foram votados e aprovados. A diretora do campus da UNIR de Ariquemes, Profª Drª Márcia Ângela Patricia foi convidada também para compor a mesa e fez uma fala saudando o evento e ressaltando a importância de um encontro desses ocorrer no campus de Ariquemes, que a muito sofre com o sucateamento das universidades públicas e já correu o risco de encerrar suas atividades. As delegações colocaram suas expectativas com o 6º EROEPe, destacaram as dificuldades, mas a felicidade em comparecer, muitos, em seu primeiro encontro estadual do curso.  Ao final, foram criadas 5 comissões de trabalho: segurança, alimentação, limpeza, organização e agitação.

Após a mesa de abertura houve uma pausa para o almoço, e em seguida os estudantes seguiram para o auditório da Escola Estadual Cora Coralina, para dar início à mesa de introdução ao movimento estudantil. Visto a presença de 4 campus diferentes da UNIR, com cerca de 80 participantes, os estudantes foram separados em 6 grupos de pouco mais de 10 participantes, de diferentes campus. A exposição da mesa consistiu em apresentar uma tabela com uma série de táticas históricas de luta do movimento estudantil, desde táticas mais complexas até as mais simples, das mais combativas até as mais burocráticas. A partir daí, foi apresentado um cenário hipotético em que cada grupo era um centro acadêmico de pedagogia, em que os estudantes deveriam fazer um plano de suas decisões enquanto movimento estudantil combativo. 3 situações foram apresentadas em série, com 10 minutos de intervalo entre cada uma delas, onde os grupos poderiam responder com até 2 táticas. Depois desta atividade, cada grupo apresentou e justificou sua estratégia (sequência de táticas). Em cada apresentação, havia comentários de companheiros da mesa sobre as escolhas, e discussões sobre a intenção de cada tática. Para o encerramento, os grupos foram dissolvidos e cada um dos campi se reuniu para discutir a aplicação das táticas em sua situação concreta, e não mais de forma hipotética. Além da atividade ter sido muito interativa e ganhado a simpatia da maioria dos presentes, também ajudou os estudantes a entender como funciona o movimento estudantil e os meios de luta dentro da Universidade.

Após a atividade, os estudantes retornaram ao campus e se organizaram para o banho e preparação da cultural do primeiro dia que foi integrada a outro evento que estava ocorrendo no campus, o festival “UNIR arte e cultura”. Recebendo a banda de rock “fuska 69”, artistas independentes com declamações de poemas, em LIBRAS inclusive, uma companhia de dança do ventre, zumba e contação de histórias. Durante a cultural o jantar foi servido e as comissões de trabalho se organizaram para assumir suas funções no dia seguinte. 

Na manhã do dia 26, após a alvorada os estudantes se organizaram para o café da manhã e logo na sequência a organização da plenária com a primeira mesa do dia “A Base Nacional Comum de Formação de Professores como complemento do “novo” ensino médio”, com a professora doutora Isaura Isabel Conte da pedagogia do campus da UNIR em ji-Paraná, que destacou muito bem como a resolução 02/CNE/2019 destruiria as licenciaturas em particular mas em especial o curso de pedagogia. Denunciou que muito embora a resolução tenha perdido a validade, ainda há muita luta pela frente para extinguir qualquer reformulação de tal resolução e que os estudantes e educadores como um todo não deveriam ter ilusões de que a luta acabou por conta da eleição de um governo dito mais progressista. Que era necessário continuar pressionando e sempre se manter atentos aos projetos neoliberais na educação que dia sim e dia também são aplicados goela abaixo da nação. A discussão teve saldos muito positivos, muitos dos estudantes da pedagogia dos campi do interior sequer haviam tomado conhecimento de que tal resolução existia e se puseram a disposição para barrar sua aplicação.

Após a mesa, os estudantes seguiram para o almoço, e durante o início da tarde uma oficina de produção de faixas foi feita, envolvendo muitos calouros dos campi na atividade. Além da faixa com o tema do próprio evento, também foi confeccionada uma faixa com a consigna “cadê os 18 milhões?” se referindo às emendas parlamentares destinadas a Universidade Federal de Rondônia que possuem destino desconhecido ou de caráter no mínimo duvidoso. Denúncias têm sido feitas de que a reitoria da UNIR utilizou de considerável parte deste recurso, cerca de 2 milhões de reais para adquirir caminhonetes novas para a Universidade, barganhando esse veículos em troca do apoio dos diretores dos campi do interior em um cenário em que a administração superior se queima cada vez mais, e tem cada vez menos o apoio da comunidade acadêmica. 

Após a oficina, um lanche foi servido aos estudantes e a plenária retornou com a mesa de situação política nacional, tendo o diretor chefe do Jornal A Nova Democracia como palestrante. Victor saudou o evento, e iniciou sua análise caracterizando o imperialismo que vivemos atualmente em que a acumulação progressiva de capital por parte de um pequeno grupo, alastra a miséria perante a grande maioria da população. Este processo, contudo, acirra as contradições da massa com seus Estados e gera a consolidação de grupos de populares que, apropriados das lutas históricas das classes oprimidas, se rebelam e respondem de forma combativa a crise institucional e política. Bolsonaro, se aproveitando disso, realizou um discurso contrário a burocracia, democracia burguesa e a política partidária, sem largar em nenhum momento tais instrumentos. Compreender agora que Lula seria uma nova esperança, é justamente, esquecer as contradições de classes que permanecem determinando as contradições políticas, que são temidas constantemente pelo exército – como coluna vertebral do Estado. As perspectivas combativas, tem como vanguarda, justamente a juventude e seus levantes, como ocorreu em 2013, para que haja um desencadear de lutas populares, no campo e nas cidades, no sentido de conquistar uma nova democracia, sobre o cadáver da anterior. 

Em seguida, os estudantes foram direcionados para o banho e preparação da atividade cultural do segundo dia. Após o jantar, os estudantes prepararam a cultural, recebendo a cantora local Maria Rita que cantou clássicos do MPB e recebeu pedidos. Além da atração, um karaokê também foi realizado, envolvendo grande parte das delegações.

Na manhã do dia de encerramento, a última palestra do evento, intitulada “Pedagogia Socialista” foi realizada com a Profª Drª Marilsa Miranda de Souza como palestrante, que fez uma retomada histórica das experiências mais avançadas no que diz respeito à educação que forme sujeitos que entendem como o mundo funciona de fato, a forma como as crianças são ensinadas isoladas da realidade, sem entender os problemas da sociedade, confusas e sem pertencimento a sua classe. Explicou que muitas vezes os educadores criticam as pedagogias liberais, pós-modernas, tecnicistas, mas muitas vezes não apresentam uma pedagogia como alternativa a essas, e que o objetivo da mesa naquele contexto era importantíssimo. Após a fala, várias intervenções foram feitas, inclusive por uma funcionária da biblioteca do campus que saudou a palestrante e parabenizou os estudantes em luta contra a chamada “lei da mordaça” na UNIR. Disse que estava presente no evento de celebração dos 40 anos da UNIR e que viu a manifestação dos estudantes no evento com uma das faixas que estava pendurada na plenária e dizia “contra a lei da mordaça” e “abaixo a censura na UNIR”. A funcionária disse que a Universidade era isso mesmo, espaço do livre pensar, das manifestações culturais, políticas, e que por isso os estudantes e organizadores do evento estavam de parabéns.  

Logo após a mesa os estudantes mobilizaram-se para a plenária final, que contou com auditório lotado, onde o plano de lutas do 6º encontro rondoniense dos estudantes de pedagogia foi votado, destacando um ponto de grande discussão que foi a criação de um “comitê estudantil de luta pela criação de creches nas periferias”. Notas e moções também foram votadas na plenária final, uma exigindo o fim da proposta de “regulamento disciplinar discente” na UNIR, conhecido como nova lei da mordaça, outra exigindo que o conselho superior colocasse imediatamente em pauta do pleno o parecer contrário à aplicação da resolução 02/CNE/2019 na UNIR. A eleição da nova diretoria da executiva rondoniense de estudantes de pedagogia foi feita, tendo Alexandre Victor se reeleito como secretário executivo, Érica Siane Nogueira sido eleita como secretária de finanças, e Karine Stéfany sido eleita como secretária de propaganda, todos da pedagogia do campus da UNIR em Porto Velho. Além disso, vários estudantes dos campi de Porto Velho, Guajará-Mirim, Rolim de Moura e Ariquemes se candidataram como membros da executiva e foram eleitos por unanimidade dos presentes. O local escolhido para sediar o 7º EROEPe foi Porto Velho e em clima de bastante euforia a plenária final, bem como o 6º encontro rondoniense dos estudantes de pedagogia foram declarados encerrados. 

Encerrada a plenária final, os estudantes foram instruídos a seguirem para a cozinha onde puderam realizar suas refeições, e em clima de alegria todos saudaram e aplaudiram a cozinheira e a equipe de apoio responsável pela preparação da alimentação durante todos os dias de evento.

Posterior ao horário de almoço, às 13h30min deu-se início a última atividade cultural prevista para o 6° EROEPe, o passeio ao Parque Botânico da cidade. O local foi escolhido por ser o principal ponto turístico da cidade, conhecido por sua beleza e tranquilidade. Durante o passeio os estudantes puderam apreciar os destaques da fauna e flora local.

PLANO DE LUTAS APROVADO EM PLENÁRIA FINAL DO 6º ENCONTRO RONDONIENSE DOS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA

1. Situação Política

  • Reafirmar o compromisso da ExROEPe em apoiar as lutas do povo brasileiro, se vinculando à luta pela terra dos camponeses e por território dos indígenas e quilombolas, pessoas com deficiência, a luta dos trabalhadores terceirizados, profissionais da educação, dos estudantes secundaristas, contra o preconceito e discriminação aos migrantes e imigrantes, por orientação sexual e/ou identidade de gênero.
  • Apoiar e participar nas iniciativas de fundação de Comitês estudantis de solidariedade popular, contribuindo na organização independente do povo, e do direito de se auto-organizar.
  • Reforçar, defender e intensificar a cultura popular e democrática.
  • Denunciar o genocídio das classes oprimidas, pelas forças de repressão do Estado.
  • Destacar como principal finalidade dos comitês estudantis fundados principalmente nas periferias e demais localidades a criação de creches.

2. Universidade

  • Denunciar e enfrentar a tentativa de desmonte da educação executado pelo MEC/FMI/Banco Mundial, reitorias e qualquer um que ouse tentar passar por cima dos direitos dos estudantes;
  • Combater qualquer tipo de intervenção do MEC nas instituições públicas de ensino em Rondônia.
  • Lutar pela revogação imediata da Resolução 02/CNE/2019, que visa a destruição do curso de pedagogia e regresso à pedagogia do regime militar. 
  • Lutar para barrar a aplicação do ensino híbrido, medida que visa a aplicação definitiva da EaD nas Universidades. 
  • Garantir que a Universidade ofereça reserva de vagas, assistência estudantil, metodologias específicas e ampliação do número de profissionais para dar assistência e acompanhamento às pessoas com deficiências e às especificidades educacionais e necessidades dos estudantes indígenas, camponeses, quilombolas, ribeirinhos, imigrantes, população LGBTQIA+, etc. Assim como transparência em relação aos auxílios financeiros.
  • Lutar contra o sucateamento da UNIR, conquistar a brinquedoteca e creches em todos os campi da Universidade.
  • Lutar pelo Restaurante Universitário, oferecendo três refeições diárias, com preço simbólico em todos os campi e flexibilização dos processos licitatórios das cantinas.  
  • Lutar para instituir a paridade estudantil nas decisões da UNIR, defendendo a Democracia e a Autonomia Universitárias;
  • Defender a Universidade Pública, Gratuita, Científica e a Serviço do Povo com unhas e dentes;
  • Lutar por mecanismos de equivalência na migração de região entre cursos de pedagogia em todos os campi da UNIR;
  • Criar um canal de comunicação da executiva rondoniense de pedagogia em todos os campi;
  • Lutar pelo fim do regulamento disciplinar discente na UNIR, medida autoritária que foi proposta para reprimir, perseguir e criminalizar o movimento estudantil. 
  • Pressionar a administração superior da UNIR para que coloque o parecer sobre a resolução 02/CNE/2019 na pauta do conselho superior.

3. Movimento Estudantil

  • Boicotar o ensino híbrido e lutar contra a implementação definitiva da EaD em escolas e universidades, e intensificar a mobilização pelas greves de ocupação das mesmas, exigindo sua imediata reabertura.
  • Fortalecer as entidades de base, impulsionando a organização de CA’s e DA’s e em todos os campi e instituições com curso de Pedagogia;
  • Avançar na política de autossustentação das entidades;
  • Ampliar nossa articulação construindo a luta dos estudantes dentro das universidades privadas.
  • Lutar contra a militarização das escolas, assim como a censura de obras e de professores que defendem a educação científica. 
  • Mobilizar grêmios, escolas secundaristas e instituições universitárias para o Dia Nacional de Lutas em Defesa da Educação: 23/11.

VIVA A EXECUTIVA RONDONIENSE DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA!

PEDAGOGIA É PRA LUTAR! O IMOBILISMO NÃO VAI NOS SEGURAR!

Porto Velho, 27 de novembro de 2022. 

Deixe um comentário