Viva o Vitorioso 23º Encontro Paulista de Estudantes de Pedagogia!

No dia 19 de setembro, a Executiva Estadual de Estudantes de Pedagogia de São Paulo (EEEPe-SP) e o Centro Acadêmico de Pedagogia da Unifesp Gestão E Vamos à Luta! organizaram o 23º Encontro Paulista de Estudantes de Pedagogia (EPEPe). Evento que ocorreu na zona sul da região metropolitana de São Paulo, no prédio do DCE da Unifesp. O Encontro foi realizado de maneira presencial.

O EPEPe contou com a participação de estudantes de 5 universidades do estado, Unifesp, Unicamp, USP campus de Ribeirão Preto, UNESP e do Instituto Federal de São Paulo.

Devido a pandemia e o tamanho do espaço que foi sediado o evento, o número de participantes teve que ser reduzido para o máximo de trinta, para que pudesse evitar a aglomeração. A Comissão Organizadora seguiu rigorosamente todas as recomendações dos protocolos de prevenção ao coronavírus, como medição de temperatura, uso obrigatório de máscaras e de protetores faciais, tapete sanitizante na entrada para a higienização dos calçados e também recipientes com álcool em gel a disposição em todos os ambientes do evento. Durante os debates, preservou-se o distanciamento de 1,5 metro entre os ouvintes e, do mesmo modo, durante as refeições, os participantes revesaram os lugares limitados para a alimentação, pois teve-se o cuidado de manter apenas uma pessoa por mesa e a distância de 2 metros entre cada mesa.

Tivemos duas mesas de debates. A primeira tratou sobre a Situação Política, com um membro do Comitê de Apoio ao jornal A Nova Democracia como palestrante. Começou saudando todos os participantes por decidirem estar em um evento presencial em meio a pandemia, por escolherem levantar alto a bandeira do classismo e lutar presencialmente ao lado do povo, que, sem alternativa por não ter as condições minimas para realizar a quarentena, é obrigado a procurar emprego e lutar contra fome colocando sua saúde e vida em risco.

Em sua análise sobre a atual conjuntura nacional e internacional, o convidado citou os grandes levantes populares do EUA contra os assassinatos brutais dos pobres e pretos, como George Floyd, que têm incendiado o país e que repercutiu mundo à fora, e como os políticos estadunidenses tem se utilizado desses protestos justos para angariar votos para as eleições desse ano. No Brasil vemos o mesmo: um povo que sofre com uma grave crise econômica, com o desemprego e desalento de 27,9% – maior do que a crise de 1929 nos EUA – e com o caos da crise sanitária que já ceifou mais de 135 mil pessoas, a população é obrigada a sair de casa em busca de emprego, lutando para sobreviver. Nesse contexto, o “salvador da pátria” Jair Bolsonaro, para seguir servilmente as ordens de cima, cria o Auxílio Miserável Emergencial, repeteco das políticas assistencialistas de governos anteriores, numa tentativa falida de manter o povo conformado, ao mesmo tempo que administra a crise cortando as verbas da saúde e da educação e dando isenção fiscal para os monopólios e ao agronegócio, além de aumentar os salários dos generais e dos funcionários dos altos cargos públicos.

Os políticos procuram agradar as frações da burguesia e do latifúndio que, em detrimento da vida e saúde do povo, querem lucrar e manter o nível assombroso da superexploração e de lucros. Todo esse escárnio e descaso para com o povo, jogando-o para a miséria e morte, só fará crescer a revolta popular. E, para contê-la, nosso presidente fascista e seus generais se valerão da mais crua violência e repressão. Entretanto, só a luta combativa e independente por uma verdadeira democracia pode garantir, de fato, os direitos do povo e dar resposta a crise.

Na segunda mesa do EPEPe, cujo tema era: “barrar a EaD impulsionando o boicote”. Nela, tivemos a participação de três convidados, começando pela professora Marian Dias, da UNIFESP, que fez uma vídeo-conferência. A professora abordou o problema sob a perspectiva docente. O ensino remoto vem sendo aprovado no país inteiro desde que o governo criou a Portaria que permite substituir o ensino presencial por ensino mediado por tecnologias. Vemos professores sendo chantageados e aceitando essa imposição sem grande resistência. Mal enxergam que seu trabalho está sendo precarizado, pois hoje a educação está ficando mais barata para o governo e a jornada de trabalho cada vez mais longa, e, se antes vários meios de produção eram fornecidos pelas instituições, agora eles são supridos pelos profissionais da educação, utilizando seu próprio computador, sua própria internet. Situação extremamente semelhante a dos trabalhadores de aplicativos, esse é um processo que tem sido chamado pelos teóricos de uberização.

Por sua vez, o ensino remoto se impõe e mostra suas consequências. A professora salienta que é possível aprender por vídeo-conferências e através de meios tecnológicos, mas se recusa a chamar o que faz de “aulas”, pois, do seu ponto de vista, essa modalidade de ensino tem se igualado ao nível do YouTube, que não tem a mesma profundidade de uma aula presencial. Uma “aula” online em casa está concorrendo com todo tipo de distração, é possível assistir a aula e fazer outras coisas ao mesmo tempo, como fazer as tarefas domésticas ou cuidar dos familiares, o que prejudica enormemente o aproveitamento. Além disso, a EaD rompe com as relações sociais, as trocas mútuas entre pessoas e reduz o ensino a apenas técnicas, o que favorece um pensamento unidimensional.

O segundo convidado foi um representante do Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação (MOCLATE). Professor no ensino médio, abordou a EaD sob a ótica do ensino básico. O docente ressaltou a importância de estudantes se reunirem para realizar um evento presencial, pois é apenas presencialmente que a luta consequente pode ocorrer, de fato. Em sua fala, observa um ponto relevante para compreender a falta de resistência dos professores em relação ao ensino remoto, que é a ausência de articulação e organização entre a categoria. Dentro disso, crítica o sindicato que é filiado, pois este se diz contra o retorno das atividades escolares presenciais, mas se omite em relação aos servidores, que foram convocados às escolas há meses, correndo risco de contaminação e a morte devido a pandemia. Esse mesmo sindicato não tem se posicionado contrário a educação à distância.

O professor também denunciou as chantagens da secretaria de educação. O atual secretário do estadual do Rio de Janeiro, Pedro Fernandes, está preso, investigado por desvio de verbas públicas. Mesmo com o cargo vago, a secretaria pressiona as escolas para aderirem à EaD, inclusive ameaçando alunos a terem suas matriculas canceladas, isto é, serem expulsos, caso não aceitem cursar o ensino remoto. Apesar disso, docentes têm procurado dar uma alternativa diferente para o papel das escolas na pandemia, que é a de criar um comitê sanitário para organizar a comunidade local para se prevenir do vírus.

A última parte do debate teve a presença do representante da Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe) e Secretário Executivo desta. O palestrante tratou sobre os diversos ataques a autonomia universitária, como os cortes de verba e as intervenções na nomeação de reitores, que visam levar ao sucateamento e privatização do ensino público. Também comentou sobre as contradições entorno da democracia, direito incipiente que a todo momento é negado, onde se estrutura pelo sistema 70-15-15, dando poder quase absoluto para os professores e que, por ser um processo burocrático, tem contribuído para a implementação do ensino remoto nas universidades.

Ademais, o próprio ensino remoto se apresenta como um ataque a democracia, porque favorece a perseguição política de professores e alunos, com a gravação do conteúdo e debate das disciplinas em programas controlados por conglomerados como Google. Nesse contexto, torna-se muito difícil que um professor se posicione politicamente, com risco de sofrer retalhação. E, com o fim do contato presencial dos alunos, na sala de aula, nos corredores, no restaurante universitário, em resumo, de espaços de convívio, o ensino remoto se revela um ataque ao direito à organização dos estudantes, justamente esses que têm travado tantas lutas nos últimos anos.

Também foi lembrado o histórico de lutas dos estudantes de pedagogia. Como em 2002 na UFPE, onde estudantes iniciaram o boicote às taxas de matrículas que, com a agudização da luta e com muitos sacrifícios, poucos anos depois conquistamos o direito à gratuidade. Os exemplos da vitoriosa greve da UNIR em 2011, que derrubou um reitor pela primeira vez na história do país, com uma mobilização extremamente massiva, derrubando os muros da universidade. Outra luta extremamente importante foi a ocupação do bandejão da UERJ, onde os estudantes lutaram pela reabertura do restaurante universitário, tendo que enfrentar o imobilismo do velho movimento estudantil, desataram a ocupação e colocaram o restaurante para funcionar e, com pouco mais de um mês, conquistaram sua reivindicação. E 2019, em que estudantes de norte a sul do Brasil foram às ruas contra os cortes da educação e conseguiram impor derrotas ao MEC.

Todos esses exemplos demonstram que a luta independente e combativa é a única capaz de nos trazer vitórias. E não seria diferente agora. Apesar da pandemia, a educação continua sendo atacada e cabe a nós defendê-la. Nesse momento, a principal forma de luta que se apresenta é o boicote, a recusa em aceitar a EaD sendo imposta goela abaixo em nossas universidades. Então, devemos colocar o boicote na ordem do dia, descobrir as formas particulares pelas quais ele poderá ser aplicado sem o prejuízo dos estudantes e partir para a luta! Boicotar o ensino remoto sem reservas e sem conciliação! Travar uma luta sem quartel contra a implementação da EaD no ensino público: sem os estudantes não haverá “aulas”; sem os estudantes não haverá ensino a distância!

Em seguida, votamos o Plano de Lutas da Executiva Paulista na Plenária Final, baseado nas propostas feitas durante dos Grupos de Discussão, que deverá ser aplicado nas universidades do estado. O plano é voltado para a luta pelo boicote à implementação do ensino remoto e pela mobilização da delegação de São Paulo para a ida ao 40º Encontro Nacional, em Curitiba/PR.

Por fim, encerramos nosso vitorioso 23º EPEPe com uma atividade cultural. Contamos com a participação de estudantes tocando violão e músicas populares e autorais ao vivo, além de outros presentes que recitaram poemas do povo, para elevar nosso espírito e nos enchermos de animo para as lutas que virão!

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