ExNEPe marca presença em reunião da SBPC exigindo revogação do NEM

Durante toda a 75° reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC – (23 a 29 de julho), a ExNEPe (Executiva Nacional dos Estudantes de Pedagogia) esteve presente defendendo o caráter democrático da ciência nacional e se manifestando contra o “Novo” Ensino Médio, além das políticas privatistas nas Universidades públicas.

Ocorrida na UFPR, a reunião da SBPC é um evento que visa apresentar e debater políticas públicas em diversas áreas da ciência, além de servir como espaço de divulgação científica para a população. O tema da 75° reunião foi “Ciência e democracia para um Brasil justo e desenvolvido.” Desde o início, porém, estudantes da UFPR e membros da ExNEPe montaram uma mesa para denunciar a demagogia do tema e a presença massiva de entidades governamentais supostamente em defesa da ciência enquanto, ao mesmo tempo, promovem o maior ataque à educação pública da história do país, o “Novo” Ensino Médio.

A mesa esteve presente conversando com os estudantes durante toda a semana do evento, ao longo da qual a ExNEPe interviu em diversas palestras. A primeira intervenção foi realizada na terça-feira, no espaço “Essa é a reforma do Ensino Médio que Precisamos”, composta por professores de UF’s e o Secretário do MEC Maurício Holanda. Denunciou-se a falácia de o aumento da carga horária ser uma medida contra a evasão, quando na verdade é um completo empecilho aos estudantes do povo, que ainda são obrigados a trabalhar durante seus anos de ensino; demonstrou-se como essa medida é inconsistente, pois segue a mesma lógica que muitas medidas do NEM, aplica-se mudanças sem desenvolver a estrutura da escola, “como os estudantes não vão evadir se precisam trabalhar para sobreviver, o Governo vai dar bolsa para todos eles? Até no campo? No Interior?” A mesa, completamente desligada da realidade, coloca que as escolas brasileiras já possuem a estrutura necessária a ofertar o ensino integral.

Apontou-se também que os professores não são capacitados a ministrar os Itinerários Formativos (IF), fazendo com que substituam matérias obrigatórias de biologia, física, etc, por aulas esvaziadas de metodologia e conteúdo científicos. Esse ponto também foi usado para destacar como na verdade não existe a tão pregada “escolha” dos alunos pelos conteúdos que preferem, já que a escolha é limitada aos poucos IF presentes em cada escola, e para os quais também não há qualquer formação de professores para ministrá-los. Na prática, como acontece por todo o Brasil, os alunos são obrigados a passar o dia inteiro nas escolas e escolher os IF que nelas são ofertados, tendo aulas completamente esvaziadas. Ao fim da intervenção, lembrou-se que o debate sobre o NEM é muito antigo, sua proposta vem de 2013, e as massivas ocupações secundaristas em 2016 foram a maior prova da rejeição dos estudantes a este projeto podre, e para o qual nenhuma proposta de luta foi apresentada pelo Governo Federal ou pela UNE.

Na quarta-feira, a ExNEPe interviu em outra mesa, desta vez com o tema O Papel das Universidades Públicas na Reconstrução do Brasil, e composta pela Secretária da Educação Superior no MEC, Denise Carvalho, e os reitores da UFPR, UFMG, UFPA e UFABC. Este espaço constituiu-se por um enorme elogio à gestão do governo de turno e incessante exposição de que tudo vai muito bem na educação brasileira com a saída de Bolsonaro. Desta vez, a ExNEPe questionou o completo silêncio sobre a questão do NEM em um espaço que se preocupava tanto em defender a ciência nacional, denunciou o embelezamento da UFPR durante a SBPC, que não corresponde ao verdadeiro estado de precarização e privatização da universidade, que tem materiais de laboratório datados da década de 50, obras paradas há anos e diversas patentes de pesquisa vendidas para a iniciativa privada. Demarcou-se sobre como é impossível falar de qualquer progresso na ciência nacional sem a imediata revogação do NEM. Os palestrantes não responderam à intervenção.

Por último, foi confirmada de última hora a presença do Ministro da Educação, Camilo Santana, em um espaço na quinta-feira. A ExNEPe compareceu massivamente, entoando palavras de ordem antes e durante o evento. A intervenção da entidade foi à base do problema, denunciando como o NEM é em sua essência anticientífico, pois foca em uma formação alienada e tecnicista dos estudantes, que não visa sua emancipação e capacidade de análise sobre a realidade. A substituição de disciplinas obrigatórias por IF’s visa demolir a capacidade de ensino e pensamento crítico, substituindo-a por um desenvolvimento de competências destinado ao precarizadíssimo mercado de trabalho, onde impera a uberização e o “faça você mesmo”, por isso os IF’s são compostos por conteúdos como “empreendedorismo”, “projeto de vida”, “o que rola por aí” e “brigadeiro caseiro”. Ao fim da intervenção, denunciou-se como o NEM não é um projeto iniciado na gestão Bolsonaro, mas que data dos governos petistas em 2013 e foi continuado por todas as gestões do Estado até então, pois não é exclusivo de um ou outro partido, mas faceta da opressão movida pelo Velho Estado brasileiro, destinado a precarizar nossa educação, a produção e ciência nacionais, para vender nosso país às elites internacionais a preço de banana.

Como fruto das intensas mobilizações a nível nacional e da intervenção da ExNEPe, Frentes pela revogação e demais entidades comprometidas com a luta contra o NEM, em sua Assembleia Geral, a 75º Reunião da SBPC aprovou por 50 votos a favor contra 43 contrários(que defendiam apenas uma “revisão do NEM”), moção em defesa da revogação do “Novo” ensino médio. Tal fato nos aponta que somente a nossa firme mobilização e luta é capaz de barrar esse criminoso ataque a educação pública e gratuita e reforça, uma vez mais, a necessidade de todos aqueles comprometidos com o ensino público de cerrar fileiras junto aos comitês pela revogação imediata do NEM e abandonar qualquer ilusão com as demagogias do atual ministério da educação que já sinalizou seu compromisso com o setor empresarial.

Deixe um comentário