Vitoriosa Ocupação da EACH USP!

Na noite do dia 20 de junho estudantes ocuparam o prédio Titanic da EACH USP para reivindicar o pagamento justo das bolsas de permanência estudantil e a contratação permanente de docentes. A mobilização se iniciou após diversas reuniões infrutíferas com a diretoria.

Dentre os problemas enfrentados pelos discentes estão o corte do Auxílio Manutenção de R$ 250,00 , bolsa exclusiva do campus, pensada por considerar sua precariedade: a falta de moradia estudantil, de creche universitária, de laboratórios, de espaços destinados para os Centros Acadêmicos e outros problemas de infraestrutura, além de atender estudantes que moram na zona leste, uma das regiões mais carentes de São Paulo. Ademais, com o novo Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE), diversos alunos em situação de vulnerabilidade perderam seu direito ao auxílio sem nenhuma explicação e sem o direito ao recurso respeitado. Também foram relatadas várias falhas na coleta de documentos e durante o processo de análise, erros na classificação e atraso na divulgação dos resultados.

Outra reivindicação é a contratação de professores, situação enfrentada em todos os cursos, principalmente de Obstetrícia, Gestão Ambiental e Gerontologia. Com o déficit do corpo docente, os estudantes têm sua formação atrasada em até um ano, podendo não receber seus diplomas! Com os profissionais remanescentes, por sua vez, vemos casos também da grande precarização da universidade: professores que acompanham estágios estão com uma carga horária de trabalho de 32 horas semanais nas unidades de saúde, além de seus deveres com a sala de aula, pesquisa e extensão. Essa situação é insustentável.

Das mobilizações que antecederam a ocupação se destaca o ato realizado na sexta-feira, dia 16, em ocasião da vinda do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior ao programa “Reitoria no Campus”. A reunião foi planejada para ocorrer a portas fechadas e o pedido para o evento ser aberto com participação do corpo discente foi negado. O reitor tentou fugir do campus, entretanto, foi impedido pela manifestação dos estudantes revoltosos com o descaso com a EACH, e, com grande ousadia e insistência, obrigaram a reitoria a ceder e realizar a reunião exigida.

A reunião ocorreu conforme o modus operandi da burocracia universitária, utilizando-se de termos técnicos e dados gerais e estatísticos de toda a Universidade, que não especificaram a EACH, buscando omitir a culpa da Reitoria e atribuir a responsabilidade da grave situação de descaso para os procedimentos burocráticos, como se os “excelentíssimos” senhores fossem meros funcionários técnicos fazendo seu serviço, de maneira neutra, tentando esconder suas verdadeiras posições políticas de como escolhem usar o orçamento e que os estudantes não tomam parte nessa decisão.

Logo após essa grande mobilização, foi realizada plenária que aprovou paralisação a começar na quarta-feira, dia 21. Com a discussão sobre a importância do piquete, de garantir a interrupção das atividades acadêmicas e o respeito à decisão do corpo discente, os estudantes viram a necessidade de dormir na Universidade e, assim, fazer a ocupação do prédio Titanic já na noite de terça.

A Ocupação da EACH-USP

Foram 8 dias de intensa mobilização dos estudantes, que contou com cerca de 400 participantes durante as atividades e assembleias e mais de 50 ocupantes pernoitando. No primeiro dia, 21, foi realizada uma reunião com a diretoria em frente ao Restaurante Universitário, durante a discussão, o diretor tergiversou sobre as demandas estudantis, disse que eles têm buscado em diversas oportunidades a contratação de professores, que haverá 13 novas vagas – insuficientes para cobrir o déficit do corpo docente -, e concluiu dizendo que a questão é de responsabilidade da reitoria. A representante da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) do campus, também alegou que os problemas relatados pelos estudantes não faziam sentido e que o edital corria sem problemas. Dessa forma, não deu nenhuma certeza aos ocupantes, mas reforçou neles a necessidade de continuar a luta.

No dia seguinte, 22, foi realizado um cine-debate do filme “Cabeça de Nêgo”, organizado pelo Centro Acadêmio de Obstetrícia (CAOBS), que aborda o tema da ocupação e contou a participação de secundaristas da FIL-São Paulo (Frente Independente de Luta contra o NEM), que debateram sobre o Novo Ensino Médio e a luta por sua revogação. Houve também oficina de confecção de faixas para a ornamentação da ocupação, como “Não abro mão do meu auxílio” e “Viva a Ocupação da EACH!” e ainda de tarde, aconteceu ensaio da bateria Bandida. No fim do dia ocorreu a assembleia dos estudantes e, durante o debate, foram expostas duas posições sobre os rumos do movimento: primeiro, de continuar a paralisação de aulas e ocupação do prédio, considerando que as reivindicações ainda não haviam sido conquistadas e a segunda, de realizar um protesto com trancamento da rodovia Ayrton Senna, proposta defendida sob a “necessidade de radicalização”, que seria realizada com pouquíssima preparação e que, na prática, colocaria em risco toda a mobilização, esvaziando e encerrando a ocupação, além da chance de um enfrentamento com a polícia etc. O segundo posicionamento foi derrotado e, assim, permitiu que as mobilizações do movimento continuassem.

Na sexta-feira, dia 23, uma comissão de estudantes foi enviada para a SanFran (Fundação da Faculdade de Direito da USP) para encontrar com o reitor e entregar-lhe o Manifesto da Luta Eachiana, e este se comprometeu a fazer uma reunião aberta com o corpo estudantil e com a diretoria do campus sobre as reivindicações na próxima terça-feira. Neste dia também aconteceu colagem de lambes pelos arredores da Universidade e diversas atividades físicas e esportivas como yoga, queimada e futebol.

Durante a ocupação, foram realizadas diversas atividades como parte da mobilização dos estudantes, convocando-os a participarem ativamente do movimento. Dentre elas, ocorreram atividades físicas como partidas de vôlei, rouba bandeira, jogos como uno, truco e pebolim; rodas de conversa sobre saúde mental com o Núcleo de Acolhimento Universitário, conversa sobre educação sexual com o Centro Acadêmico de Obstetrícia. Além de eventos culturais, como o treino aberto da bateria Bandida e, no dia 26, o Arraial da ocupação, com roda de samba.

Nenhum pessimismo foi capaz de frear o ânimo dos estudantes da EACH, que, com extrema combatividade e otimismo, superaram diversos obstáculos apresentados ao longo da ocupação, foram capazes de garantir as condições logísticas de alojamento, alimentação e segurança até mesmo durante o final de semana, quando houve menor fluxo de estudantes no campus.

Na terça, dia 27, uma comissão eleita foi enviada para o campus São Paulo para realizar um protesto unificado em frente a Reitoria e participar da reunião com o reitor. Repetindo ato vexatório da sua fuga em Ribeirão Preto, o reitor fujão Carlos Gilberto Carlotti Junior escapou de se reunir com os estudantes e foi substituído pela vice-reitora, Maria Arminda, mesmo tendo firmado compromisso com os discentes dias antes na SanFran. Apesar disso, o saldo foi extremamente vitorioso, garantindo aos ocupantes diversas conquistas, como 15 vagas para contratação docente já para o próximo semestre, estágio no Hospital Universitário para alunos do curso de obstetrícia, reavaliação dos alunos deferidos, entre outras. Ao final da tarde, estava programada uma assembleia geral dos estudantes da USP, convocada pelo DCE, e que foi cancelada posteriormente, não obstante, isso não desmobilizou os ocupantes da EACH que utilizaram a oportunidade para realizar sua própria assembleia final da ocupação. Por fim, o dia seguinte foi dedicado para o mutirão de organização e limpeza do prédio Titanic.

Deve-se ter em mente que nem todas as demandas dos estudantes foram atendidas e que os cursos da EACH, assim como diversas faculdades da USP, continuam com um déficit revoltante de docentes, além de inúmeros alunos que seguem não contemplados com seus necessários auxílios e bolsas. Entretanto, a ocupação da EACH comprova a justeza de ocupar as escolas e universidades como forma de garantir os nossos direitos mais básicos e transformar esses espaços em verdadeiras trincheiras de resistência contra a precarização do ensino público e gratuito em nosso país. Os estudantes da EACH deixaram a claro a todo momento que caso não cumpridas suas demandas, ocuparão novamente, e abrem com isso um caminho de luta na Universidade de São Paulo, inspirando estudantes universitários e secundaristas por todo o Brasil a ocuparem suas universidades e escolas contra os criminosos ataques à educação pelo direito de estudar, ensinar e aprender!

VIVA A OCUPAÇÃO DA EACH USP!

SÓ A LUTA RADICAL QUE MUDA A SITUAÇÃO, GREVE GERAL DE OCUPAÇÃO!

OCUPAR TODAS AS ESCOLAS E UNIVERSIDADES!

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