[MA] Viva o 13° Encontro Maranhense de Estudantes de Pedagogia!

O Encontro Estadual dos Estudantes de Pedagogia teve início, no dia 21 de novembro em São Luís, reunindo representantes da Executiva Maranhense de Pedagogia, do Centro Acadêmico de Pedagogia da UFMA, do Centro Acadêmico da UEMA e um representante do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR) de Buriticupu.

Mesmo em meio a uma greve no transporte público que dificultou a participação de alguns estudantes, o evento seguiu, e na mesa de abertura foram realizadas importantes intervenções das representantes do CA da UFMA e da Executiva Maranhense, saudando a realização do encontro, a participação dos estudantes em meio as dificuldades, e os princípios da ExNEPe que norteiam as atividades.

Em seguida, o representante Marcos, liderança do PARFOR em Buriticupu, ressaltou a importância formativa do encontro e a realidade enfrentada pelos estudantes do interior: “Provavelmente daria poucas pessoas. O que importa é buscar aprender, e aqui nós vamos aprender muito, certamente. Sou líder dos líderes da turma do PARFOR. Estamos organizando um evento para líderes de turma do PARFOR. O PARFOR é um presente na vida dos professores e dos estudantes dos municípios do Maranhão. Moro 50 quilômetros da sede de Buriticupu para ter aula. Tem estudantes que estudam a 60 km.”

Mesmo com as limitações impostas pelo transporte e pelas longas distâncias percorridas pelos participantes, o encontro começou com ambiente de troca, firmeza e valorização da formação docente no Maranhão.

Depois começou a apresentar qual era o regimento interno do funcionamento do evento, foi escolhida pessoas para as comissões (limpeza, propaganda e disciplina), e estabelecido as regras para o alojamento que seria feito dentro da própria Universidade.

Mesa de situação política

Pedro Marin, editor da revista Opera, apontou que a crise do Imperialismo Norte-Americano é expressão da crise geral do sistema. Ele analisou a política externa dos Estados Unidos, marcada pelo constante movimento entre o isolacionismo e o avanço sobre a América Latina, destacando que Donald Trump expressa de forma mais direta e agressiva essa orientação na região. Segundo Marin, embora em declínio relativo, os EUA seguem sendo a principal força mundial: seu orçamento militar, sozinho, supera a soma dos 12 países seguintes. Para ele, o enfrentamento a esse poder só é possível com soberania e independência nacionais.

Marin afirmou ainda que vivemos um tempo de guerras – um cenário que tende a se aprofundar. Após o fim da Guerra Fria, o imperialismo norte-americano encontrou caminho livre para reorganizar o mundo segundo seus próprios interesses. Ele criticou a tese do “fim da história”, lembrando que a suposta paz dos anos 1990 não solucionou a fome, os conflitos ou os problemas estruturais da humanidade; ao contrário, consolidou uma visão triunfalista e arrogante dos EUA, fundada na noção de “povo eleito”. Assim, longe de inaugurarmos uma nova era, assistimos à repetição e ao agravamento de crises crônicas.

No que se refere ao cenário atual, Marin expôs o genocídio do povo palestino, afirmando que Gaza transformou-se em um cemitério a céu aberto: em um território de 375 km², Israel despejou o equivalente a sete bombas atômicas. Para dimensionar a tragédia, comparou com a área de São Luís, capital do Maranhão, que possui 583 km². Ele mencionou também as agressões norte-americanas no mar do Caribe, interpretando-as como prenúncio de um possível bloqueio naval – algo particularmente grave diante da extensa fronteira entre o Brasil e a Venezuela, que toca diretamente os estados do Amazonas e de Roraima.

Ao tratar do papel das Forças Armadas no Brasil, Marin lembrou que o Exército se tornou força política preponderante durante a Guerra do Paraguai e, desde então, recusou-se a voltar a um papel secundário em um país marcado pelo latifúndio. Entre 1889 e 1964, ocorreram 14 tentativas de golpe – uma média de uma a cada cinco anos – indicando que o golpismo não é uma exceção, mas uma regra estrutural. Após o regime militar, sob o ideário do “fim da história”, difundiu-se a ilusão de que o problema militar estava resolvido. Lembrou que a posição da revista Opera se alinhava ao do jornal A Nova Democracia que alertavam, já em 2015 e 2016, que isso era um equívoco; os acontecimentos do governo Bolsonaro e do 8 de janeiro confirmaram que as Forças Armadas jamais saíram de cena.

Por fim, Marin criticou a postura do atual governo Lula, que, empossado sob forte pressão militar, não avançou em reformas essenciais – nem mesmo no âmbito curricular das academias militares. Destacou que o ministro da Defesa atua como um “sindicalista” dos militares dentro do governo, funcionando como porta-voz das Forças Armadas. Lembrou que Lula afirmou que o golpe de 1964 era “coisa do passado”, mas advertiu que aquilo que não é enfrentado retorna: isso vale para a tutela militar sobre o governo e também para episódios como a chacina no Complexo da Penha, na qual, segundo ele, houve participação direta dos militares. Processo de militarização das escolas e Universidades igualmente.

Para Jorge Moreno, juiz aposentado e vice-presidente da ABRAPO (Associação Brasileira dos Advogados do Povo), existe um problema estrutural profundo: a existência de uma situação de guerra permanente no Brasil. Ao percorrer o interior do país, afirma, é possível perceber que essa guerra já está em curso há muito tempo. Ao explicar um caso recente de reintegração de posse em Rondônia, Moreno destacou que essa guerra é real, nunca cessou a estrutura a forma como o Estado se relaciona com a população pobre.

Para ele, há um disciplinamento efetivo, militarizado e contínuo, que se expressa especialmente na repressão estatal contra camponeses, trabalhadores e comunidades vulneráveis, um mecanismo que confirma a permanência dessa lógica de guerra interna.

Moreno reforçou que, no Brasil, a questão da terra permanece como eixo central das contradições sociais. Segundo ele, a Constituição de 1988, esvaziada por mais de uma centena de emendas, já não possui sua forma original nem sua força normativa plena. O país mantém uma estrutura de propriedade, sobretudo da terra, que molda o núcleo das disputas políticas e econômicas, determinando quem tem direitos, quem é protegido pelo Estado e quem é alvo da violência institucional. Que o latifúndio no Brasil será terreno aberto para a entrada e manutenção da guerra dos Estados Unidos contra o Brasil, inimigo da soberania, do desenvolvimento e da Nação. Que as terras sirvam de reserva estratégica do latifúndio.

Mesa principal

No sábado (22), segundo dia do evento, ocorreu, pela manhã, a mesa em formato de roda de conversa intitulada “Do currículo às práticas pedagógicas: em defesa da profissão do pedagogo”, que contou com a presença do professor Érbio Santos (UFMA) e de Rebeca Rodrigues, vice-presidente da Executiva Nacional dos Estudantes de Pedagogia. A atividade abriu um dia marcado por debates, avaliações políticas e construção coletiva entre estudantes da capital e do interior do estado.

O encontro foi avaliado como um momento decisivo para a formação dos estudantes do curso, tanto no plano acadêmico quanto político. Em um contexto nacional marcado por cortes de verbas na universidade, precarização das pesquisas, baixos salários e tentativas de redução da carga curricular – fatores que ameaçam a formação integral do pedagogo -, o evento consolidou-se como espaço fundamental de discussão e organização. Reunidos na UFMA, os estudantes dedicaram-se a refletir sobre os desafios da profissão e sobre os caminhos possíveis para resistir à desvalorização da área.

A troca de experiências e análises políticas entre os participantes fortaleceu a compreensão coletiva de que a defesa da pedagogia exige também o domínio de ferramentas ideológicas capazes de interpretar e transformar a realidade social.

Grupo de discussão

No período da tarde, as mesas prosseguiram com a discussão e formulação do plano de lutas. Em seguida, ocorreu a votação para a composição da nova Executiva Nacional dos Estudantes de Pedagogia. Para ampliar a legitimidade do processo eleitoral, foi aprovada a realização de uma segunda sessão do Encontro Maranhense, que dará continuidade ao debate e à participação dos estudantes.

Cultural

O segundo dia encerrou-se com um momento cultural: um sarau que reuniu declamações de poemas e uma pintura realizada ao vivo. A atividade destacou a importância da arte na expressão das lutas educacionais e sociais, abordando temas como a luta pela terra e a resistência do povo palestino.

No fim do dia, foi entrevistada uma estudante que participou ativamente do evento, que disse:

“O que eu achei do encontro maranhense? O encontro maranhense foi um evento muito importante para a formação dos estudantes de pedagogia, não apenas no sentido acadêmico, mas também no sentido político, até porque uma coisa não existe separada da outra. Vivemos num momento em que a profissão do pedagogo está constantemente ameaçada por motivos essencialmente políticos, como os cortes de verbas da universidade, a falta de incentivo à pesquisa, os baixos salários e também a redução das cadeiras do curso a fim de desintegrar a formação integral do pedagogo. É Nesse contexto que estudantes da capital e do interior se reuniram na UFMA para discutir o que fazer.

Sabemos que precisamos estar munidos de material ideológico para entender e assim transformar a realidade. E nesse sentido foram dois dias intensos, houve mesas de situação política, debates entre os estudantes etc. Nós discutimos principalmente acerca do tema “Em defesa do currículo científico e da profissão do pedagogo’, também falamos sobre a militarização nas escolas e como isso afeta nosso futuro. Para finalizar o segundo dia, tivemos um momento cultural, fizemos um sarau onde estudantes declamaram poemas e também teve espaço para uma pintura feita ao vivo. Momentos como esse são importantes para entendermos a realidade em que estamos inseridos e, consequentemente, os problemas que envolvem nossa profissão de maneira coletiva.”

O evento encerrou-se reforçando a unidade e o compromisso estudantil em defesa da Pedagogia, da universidade pública e da construção de práticas educativas a serviço do povo.

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