No último mês, estudantes de dois cursos distintos na Universidade de Brasília (UnB), Artes Cênicas e Psicologia, lideraram, com apoio de seus centros acadêmicos, ocupações de salas de aula, lutando por espaços dignos para a convivência e organização política dos discentes, uma pauta democrática essencial, que garante espaços de lazer, estudos e descontração para estudantes que passam o dia na universidade, e que permitem a organização e mobilização política dos estudantes, servindo como espaços de debate e formação discente. Outras ocupações por espaços de convivência estão sendo preparadas, demonstrando a força do movimento estudantil combativo e independente, que cada dia mais na UnB exige seus direitos através do caminho da mobilização discente massiva independente e de maneira combativa.

Ocupação CACEN

No dia 30 de outubro, estudantes do curso de Artes Cênicas organizaram de maneira independente uma ocupação de uma sala para os estudantes. Aproveitando a troca da secretaria do curso para outro prédio e o esvaziamento da sala, os estudantes adentraram a sala que não estava sendo oficialmente utilizada, a não ser por uma aula semanal que estava sendo remanejada para o espaço, mas marcada para ser realizada em outra sala de aula no cronograma. Esperando a aula acabar, dez estudantes, entre alunos do curso, membros do Centro Acadêmico e apoiadores conversaram educadamente com a professora e iniciaram a ocupação, levando logo sofás, geladeiras e mesas e preparando um espaço digno de convivência dos estudantes.

Há mais de dez anos que os estudantes de cênicas tem seu Centro Acadêmico debaixo de uma escada do departamento. Os estudantes são obrigados a conviver com mofo, mosquitos e não tem privacidade nem para seus objetos pessoais ou coletivos, além de ter um espaço reduzido, com o curso contando com cerca de 300 estudantes que transitam pelo departamento ao longo da semana. Não é possível estudar no espaço, devido ao barulho das salas de aula, e nem conviver socialmente, pois mesmo o som de conversas vaza para as salas, atrapalhando as aulas e criando contradição com os professores. E mesmo esse espaço foi conquistado através de muita luta e de uma ocupação do mesmo, nunca tendo sido tomada qualquer decisão acerca de um espaço para os estudantes pela coordenação do curso ou pelos colegiados, apesar de terem sido feitos inúmeros pedidos pelos estudantes ao longo dos anos para que isso ocorresse.

Desejosos de resolver essa situação, foi tomada a decisão de ser realizada uma ocupação no dia do colegiado, em conjunto com uma carta, assinada por mais de 200 estudantes, que exigia que esse espaço fosse enfim destinado aos estudantes. Estudantes da Comissão de Fundação da Executiva Brasiliense de Estudantes de Pedagogia (ExBEPe) e do Coletivo de Base – Honestino Guimarães (CB-HG) estiveram presente ao longo de todo o dia, realizando atividades em conjunto com os discentes, como o estudo do documento formulado pela Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe), “Sobre a Consigna de Greve de Ocupação”, e realizado um cinedebate do filme “Greve UNIR 2011 – Resistimos, Lutamos, com a Greve Triunfamos”. Ambas as atividades tiveram alto engajamento entre os estudantes e ajudaram a formular as estratégias de luta ao longo do dia.

No colegiado, um grupo de estudantes apresentou a carta dos discentes, mas os professores preferiram priorizar outras pautas a discutir a proposta dos estudantes, limitando-se a críticas à ocupação por parte dos discentes, mas sem tempo para o debate amplo e democrático acerca das pautas. Os estudantes relatam que seu desejo não é de se opor ou criar contradição com os professores. Eles acreditam que assim como os estudantes lutam em conjunto com os professores, técnicos e demais corpos facultativos pelas pautas comuns e mesmo específicas desses grupos, tendo os discentes de cênicas apoiado ativamente a greve dos professores de 2024 e a greve dos técnicos de 2024 e 2025, chegando inclusive a participar da ocupação discente de apoio à greve do Bloco de Salas de Aula Norte (BSAN) em 2024. Assim, os estudantes relatam ser entristecedor que suas lutas e pautas não pareçam ter o mesmo apoio de parte do corpo docente, mas relatam seguir desejosos de mudar a opinião dos professores, convidando todos a visitarem o CA através de carta dirigida à coordenação, e chamando-os a participarem e realizarem atividades no período de ocupação.

Mais tarde, houve a tentativa de dissuadir os estudantes a deixarem o espaço, sem nenhuma garantia quanto a um Centro Acadêmico, e assim a decisão coletiva foi a de seguir ocupando até o próximo colegiado ou até a formalização do espaço. o CACEN e estudantes de cênicas chamam a todos a prestarem suas solidariedades à ocupação, em sua justa luta por um espaço digno para a convivência estudantil. Suas atividades podem ser acompanhadas através do instagram (@cacen_unb).

Ocupação CAPSI

Já faz mais de um mês que os estudantes de psicologia vem se mobilizando para reivindicar uma antiga luta. O curso conta com mais de 750 estudantes na Universidade de Brasília (UnB), mas o antigo espaço do centro acadêmico (CA) contava apenas com 18 m² para atender a demanda, o que gerou muitos debates e discussões com o departamento de psicologia.

A mobilização mais recente para a atual reivindicação de um novo espaço físico para o CA começou no mês de setembro deste ano, com análises e estudos prévios sobre os possíveis locais. Após a pesquisa os estudantes se reuniram em assembleia logo no início de outubro para debater sobre essa questão e se organizar, sendo que a votação para a ocupação foi unânime segundo o CAPSI (Centro Acadêmico de Psicologia).

A sala escolhida era do Instituto de Letras (IL) e estava sem uso desde as inundações que ocorreram em 2017. Ao adentrarem no local os estudantes buscaram rapidamente se dividir em equipes de trabalho para fazer a manutenção e a limpeza do espaço. Um estudante relata que conseguiu consertar várias tomadas estragadas na sala e atualmente trabalha na instalação de um novo ventilador no local, além de estar sendo realizado um estudo de troca das placas danificadas do teto. Também foi realizada uma oficina de pintura das paredes do local no dia 23/10 com tintas custeadas com recursos próprios do CAPSI.

Em meio às atividades de revitalização do espaço público o IL e a reitoria da UnB pressionam os estudantes a saírem do espaço e cobram ao Instituto de Psicologia a tomar ações quanto a essa situação. Um estudante relatou que em uma reunião da reitoria com o CA o clima foi de intimidação e deslegitimação das ações estudantis não sendo frutífera de nenhuma forma a conversa.

Um membro da gestão Grada Kilomba do centro acadêmico relata que: “Enquanto a UnB e a prefeitura reclamam do uso de uma sala vazia, nós só tínhamos aqui dinheiro e recursos públicos sendo desperdiçados a toa, agora conseguimos dar um uso para esses recursos e revitalizar o local.”

A ação estudantil tem buscado promover diversas atividades no local, na página do instagram (@CAPsi-UnB) são divulgadas ações como bingos, brechós, rodas de conversa entre outros.