[PR] Professora da Rede Estadual de Maringá atenta contra a própria vida em meio a aumento da exploração

Reproduzimos matéria de Jornal A Nova Democracia

No dia 21/10, uma professora do Colégio Estadual Dirce de Aguiar Maia, em Maringá, atentou contra a própria vida no banheiro da instituição. Uma denúncia anônima feita ao Ministério Público apontou violência psicológica e assédio moral no ambiente de trabalho. O caso ocorre em meio à entrega de escolas públicas para a iniciativa privada pelo governador reacionário Ratinho Jr., aumentando o nível de exploração contra os profissionais.

O Colégio Estadual Dirce de Aguiar é gerido pela empresa Impulso Educação, braço do Grupo Salta, conglomerado educacional que obteve a concessão desse e de outros colégios no estado do Paraná. O regime de trabalho dos professores da instituição passou para um contrato via CLT, cuja contratação, bem como demissão, é feita de maneira simplificada, mediada pela empresa gestora. Tal regime de contratação faz com que professores aceitem situações vexatórias e humilhantes, visto que temem perder seus empregos. 

Diante dessa situação, que demonstra o desamparo de uma profissional no exercício de sua profissão, destaca-se ainda que, neste ano, duas professoras vieram a falecer dentro de escolas – uma delas do Programa Parceiro da Escola e outra de um colégio cívico-militar – no estado do Paraná, padecendo dos efeitos da privatização, militarização reacionária e cobrança exacerbada sobre a categoria. 

A denúncia feita ao Ministério Público do Paraná sob o nº 0088.25.004653-4, que circula nas redes sociais, exige a investigação de casos de violência psicológica e assédio moral que vêm acontecendo na instituição. Ainda, denuncia que a diretora do colégio, ao saber do ocorrido, teria afirmado que “os insatisfeitos poderiam procurar o Ministério Público”. Tal situação, por sua vez, seria o reflexo de um cenário de violência institucional já estabelecido.

O Comitê de Apoio ao AND de Maringá buscou acesso a uma declaração da diretoria da escola, e nosso correspondente local foi informado de que a diretora estaria em férias, sem previsão para retorno. Embora cause estranhamento as férias em pleno outubro, nos foi comunicado que somente ela poderia dar esclarecimentos sobre a situação, encerrando nossa possibilidade de obter mais informações por parte da instituição. 

Privatização e burocratização da educação pública

Dentre as diversas medidas anti-povo do governador Ratinho Jr., observa-se a abertura cada vez maior a empresas privadas para atuarem nas escolas. Uma delas é o Programa Parceiro da Escola, que foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Paraná, em regime de urgência, através da Lei Estadual n.º 22.006 de 4 de junho de 2024, de modo que não houve diálogo por parte do governo do estado com a comunidade escolar ou mesmo com os sindicatos.

Ademais, a consulta com a comunidade das escolas que fariam parte do programa ocorreu nos dias 6, 7 e 9 de dezembro, somente 1 semana antes das férias escolares, impedindo o amplo debate entre professores, pais e alunos. 

Ainda assim, o governo sofreu derrotas nas votações, conforme foi noticiado pelo jornal AND na matéria “Governo é derrotado por mobilizações durante consulta pública sobre privatização das escolas estaduais”, que contextualiza a aprovação do Programa em meio à protestos e explicita que os verdadeiros beneficiários de tal medida são as grandes empresas do ramo da educação.

As escolas cívico-militares, por sua vez, foram implementadas em 2020, conforme amplamente denunciado também no AND, na matéria “Com greve de fome e ocupações, professores lutam contra demissões e militarização das escolas”. O resultado da implementação, em contraposição à ideia vendida de que as escolas se tornariam espaços “seguros”, tem sido de violência e assédio por parte de militares a estudantes, conforme denunciado pelo próprio sindicato dos professores, a APP, em reportagem intitulada “Novos casos de violência e até denúncia de tortura em escolas cívico-militares expõem fracasso e insegurança do modelo”, de julho de 2025. A denúncia também expõe as disparidades entre o salário dos funcionários e a gratificação recebida pelos militares, valor que poderia contratar até 3 funcionários que cumprem a mesma função.

A militarização reacionária e a privatização somam-se ainda à exacerbada “plataformização” que ganhou impulso durante a pandemia, obrigando os professores a utilizar plataformas educacionais privadas cujos contratos milionários não são revertidos em conhecimentos sólidos para os estudantes. 

Evoluindo de uma sugestão – um apoio à prática docente – para obrigatoriedade, a utilização das plataformas passou a ser fiscalizada por representantes do Núcleo de Educação, que vão às escolas questionar a equipe diretiva e professores caso o Power BI – Business Intelligence (plataforma da Microsoft que monitora e analisa dados) mostre que as plataformas não estão sendo devidamente utilizadas, sendo um fator de estresse e mais cobranças à categoria.

As medidas acima são apenas algumas das que vêm sendo tomadas para aumentar a arrecadação dos monopólios em cima da educação brasileira, fazendo da lógica empresarial o modus operandi do funcionamento das escolas, com um pretenso verniz de modernização e eficiência impulsionados pelas contrarreformas do Fundo Monetário Internacional (FMI), escamoteando o desmonte da educação e os abusos sofridos por profissionais e estudantes.

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