[RO] Dia das crianças no Assentamento Areia Branca reúne comunidade em luta por moradia e estudantes da UNIR

Reproduzimos matéria do Jornal A Nova Democracia. 

Em meio à suspensão das construções e à incerteza sobre o futuro, famílias e universitários celebram o dia das crianças com atividades, brincadeiras e a reafirmação do direito à moradia.

O Dia das Crianças no Assentamento Areia Branca, na zona sul de Porto Velho, foi marcado por sorrisos, cores e alegria. A confraternização foi organizada pelos próprios moradores em parceria com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), que levou brincadeiras, pintura facial, balões de modelagem, bingo e outras atividades para as crianças.

Enquanto as crianças brincavam, os adultos aproveitavam para conversar e organizar o lanche coletivo.

Foto: AND

Suspensão das construções e a reintegração de posse

O evento ocorreu em um momento delicado. Desde setembro, uma decisão judicial suspendeu por tempo indeterminado as obras no assentamento, impedindo qualquer nova construção e a continuação das que já estavam ocorrendo sob pena de prisão. As famílias podem permanecer no local, mas não podem erguer “um tijolo a mais”, segundo a determinação do juiz.

“Eu tô no aluguel, entendeu? Já era pra tá aqui, morando aqui. Mas como teve esse contratempo aí… Pensa num negócio que é um dinheiro sem retorno, é o aluguel. É muito complicado, viu?”, lamentou outro.

Muitos relatam noites sem dormir, sem saber o que será do futuro:

“Tem deles que nem dorme mais pensando, pra onde é que eu vou? O que é que vai acontecer comigo”.

Foram realizadas duas manifestações recentes: uma em frente à Prefeitura, para cobrar diálogo com o prefeito, e outra em frente ao Fórum, no dia da audiência de reintegração.

“A gente sempre tava indo atrás do prefeito pra conversar, pra ele se posicionar, mas ele nunca tava disponível. Então, a gente resolveu agir dessa forma, fazer uma manifestação pra forçar ele a nos ouvir”, contou um morador.

Até o momento, nunca obtiveram resposta direta do prefeito Léo Morais, os moradores foram recebidos por assessores, mas sem resposta concreta.

O processo de reintegração de posse foi movido pela Procuradoria Geral do Município, mas a Defensoria Pública acompanhou o caso e conseguiu suspender o despejo imediato. Uma visita com representantes da Defensoria, Ministério Público e Prefeitura está marcada para o dia 24 de outubro, para avaliar a situação das famílias. 

Organização da comunidade

A Ocupação do Areia Branca surgiu há cerca de dois anos, motivada principalmente pela falta de moradia. Muitas famílias vieram da Vila Princesa, comunidade localizada próxima ao antigo lixão, de onde foram removidas sem que lhes fosse oferecida qualquer alternativa habitacional. Assim, a ocupação representou para essas pessoas um novo recomeço.

Foto: AND

O terreno, segundo os moradores, estava abandonado há mais de 40 anos e era conhecido como “cemitério de moto roubada”. Com a chegada das famílias, o local passou a ter uma função social.

“Essa terra aqui nunca teve função social. Quando nós chegamos, demos vida pra ela”, relatou um dos moradores.

A maioria das famílias sobrevive do trabalho autônomo, principalmente na construção civil e em cooperativas de catadores. A comunidade se organiza por meio de assembleias e mutirões, fortalecendo a união e a tomada coletiva de decisões.

Um exemplo dessa organização foi a perfuração de um poço artesiano. Antes disso, os moradores dependiam da água cedida por vizinhos. A conquista foi possível graças a uma vaquinha comunitária, em que cada família contribuiu com o que pôde até reunir o valor necessário para o poço.

“A água a gente cavou num poço comunitário, onde as pessoas já estão fazendo uso. Antes, pegávamos de um morador do outro lado da rua. Fizemos uma cotinha, cada um ajudou um pouquinho, e conseguimos juntar o dinheiro pra furar o poço”, contou um entrevistado.

Recentemente, a comunidade também realizou uma festa do Dia das Crianças, transformando o momento em um ato de celebração da vida e do direito à moradia.

“Porto Velho só cresceu assim. É muito bom falar nisso, porque Porto Velho em si é uma invasão”, concluiu um morador, lembrando que a história da cidade é também a história das ocupações e da resistência popular.

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