Aos estudantes do curso de Pedagogia da UFPR
Na última sexta-feira, 17 de Outubro, ocorreu um episódio envolvendo uma burocracia em torno da autorização para uma mesa de vendas durante a II Semana Acadêmica de Pedagogia (SAPED), o que culminou no acionamento indevido da segurança universitária para um estudante secundarista, apoiador da ExNEPe, isso gerou estresse e constrangimento desnecessário dentro do espaço público da universidade.
O fato poderia ter sido facilmente resolvido pelo diálogo e pelo bom senso junto com o Centro Acadêmico Anísio Teixeira do Curso de Pedagogia da UFPR, mas não o foi, pois aproveitaram o desentendimento sobre uma situação para lançar nota pública contra a entidade. De nossa parte foi um erro não preencher o formulário de participação das vendas durante a Semana, mas consideramos pouco grave diante das acusações que foram feitas sobre a nossa entidade, com tentativas de distorção do ocorrido.
Sendo assim, consideramos necessário trazer esclarecimentos e reafirmar publicamente a nossa posição, pautada na responsabilidade, no compromisso coletivo e no respeito à verdade. Aproveitamos para agradecer a Comissão Organizadora do evento por ter realizado esse importante momento de interação entre os estudantes. Atividades como essas devem ser feitas com compromisso e abertas para as demais entidades construírem e fazerem parte.
Sobre os fatos, estivemos presentes na II SAPED — compondo a Comissão Organizadora, participando de algumas reuniões, organizando atividades e realizando nossa banca de auto sustentação, prática comum e legítima entre entidades estudantis. A banca foi organizada coletivamente, com uma escala entre membros da entidade, estudantes da universidade e apoiadores do movimento estudantil. Entre eles estava o estudante secundarista cuja retirada gerou o episódio – um jovem ativo a tempos em nossas atividades com consentimento de seus pais que frequenta o espaço universitário de forma pública e respeitosa, como é direito de todo cidadão.
Durante o intervalo no último dia de evento, ele foi abordado pela segurança acerca da autorização da banca e solicitado a se retirar, até que a representante da Executiva Estadual de Estudantes de Pedagogia chegou ao local e desfez o mal-entendido de forma breve e cordial. Neste momento, a diretora do Centro Acadêmico estava presente e agiu de maneira antagônica frente a tal situação. Não dialogou de forma correta com os envolvidos e adotou uma postura conivente com a intervenção da equipe de segurança, sabendo que se tratava de vendas promovidas por nossa entidade.
Fazemos questão de denunciar que essa postura conciliatória com a retirada do estudante secundarista dos espaços da universidade pública é uma prática inadmissível vinda de um Centro Acadêmico que deveria prezar para que a universidade seja um espaço de livre circulação do povo, sem barreiras, sem muros. Aproveitar a ausência de uma “autorização” para justificar essa postura, é algo injustificável. Primeiro, porque nós e inúmeras outras entidades realizamos vendas no espaço da universidade há anos e nunca precisamos de tal autorização, já que somos estudantes e temos o mesmo direito que todos os outros. Segundo, por ser conivente com a retirada de um estudante secundarista de um espaço público, tanto no momento do acontecimento quanto posteriormente em nota escrita.
Não vemos contradição alguma na presença de estudantes secundaristas nos espaços universitários – ao contrário, seria sectário considerar a universidade e as atividades dentro dela, um privilégio restrito àqueles que nela ingressaram por um sistema de seleção historicamente excludente. Buscamos derrubar os muros que separam a universidade do povo e colocá-la a seu serviço, como demonstram nossas inúmeras atividades abertas à comunidade, os projetos de extensão, os eventos formativos e as ações políticas voltadas à mobilização, politização e organização dos estudantes em torno das nossas bandeiras históricas, na UFPR e em todo o país.
O curso de Pedagogia não é um feudo em que só se pode fazer atividades mediante a autorização de fulano ou ciclano. Todos os estudantes têm livre direito à iniciativa independente, e a diretoria da Gestão Raízes têm demonstrado aversão a isso, agindo de forma burocrática com tudo o que ocorre nos espaços da universidade. Ocorreu recentemente quando algumas colegas nossas fizeram um formulário para solicitar que uma disciplina fosse semestral, em que a gestão ao invés de incentivar, tratorou a iniciativa das alunas, e que por incrível que pareça, foi uma iniciativa vitoriosa conquistando a alteração do tempo da disciplina. Isso se dá em meio a um importante debate de reformulação curricular, que precisaria de muito mais mobilização estudantil, uma principal pauta a ser abordada por centros acadêmicos de todas as licenciaturas, principalmente Pedagogia. Um incidente recente com a gestão atual do CAAT foi durante uma assembleia, quando cobrados por um formulário online a respeito do posicionamento dos estudantes disseram: “perdemos os resultados do formulário”. Embora um erro simples, a falta de retificação demonstra falta de compromisso com a mobilização estudantil. Por parte desses diretores, sempre há queixas com relação às demandas e quão árduo é o trabalho de uma entidade, porém, isso faz parte a quem propõe dirigi-la, o que não dá direito de agir de forma sectária com outros estudantes que querem construir a luta.
Esse fato do estudante secundarista é mais um episódio de perseguição e tentativa de deslegitimação de nossa entidade por parte dos principais diretores da Gestão Raízes, que desde sua conformação já tinham colocado sua posição contra a ExNEPe em sua Carta Programa. Passam “ares” democráticos, mas esse tipo de atitude serve como camisa de força do movimento estudantil da pedagogia.
A tempos temos visto os mesmos adotarem posturas sectárias com as companheiras de nossa entidade, não as deixando opinar em reuniões; não respeitando suas proposições; não às respondendo nos grupos do curso quando se trata de solicitar informes de assuntos importantes para as discentes; agindo de forma desproporcional quando são estabelecidos acordos entre as partes; além das próprias difamações e calúnias criadas durante a campanha eleitoral sobre roubo de dinheiro do Centro Acadêmico – difamação que foi comprovada ser falsa e que até hoje não houve retratação por parte da chapa eleita.
Percebemos que a forma de política que tem sido adotada por alguns membros da diretoria tem sido de causar intrigas e picuinhas, apontando os dedos em riste contra nossa entidade de forma fervorosa, criando um ambiente propício para desmobilização do curso, típico do oportunismo do velho movimento estudantil. Perguntamos: por que não usam essa energia para mobilizar os estudantes contra os cortes de verbas, avanço da privatização em nosso estado, e os ataques que o curso de pedagogia tem sofrido?
Consideramos levianos e oportunistas os ataques promovidos por opositores políticos que tentam transformar situações, criar escândalos para autopromoção, especialmente às vésperas da convocação das Comissões Eleitorais do Centro Acadêmico Anísio Teixeira e do Diretório Central dos Estudantes da UFPR.
Lamentamos ter que discutir publicamente esse desencontro burocrático que foi instrumentalizado politicamente pela diretoria do CAAT e pela corrente do PSOL que a compõe. Essa é uma prática política do velho movimento estudantil eleitoreiro, que serve apenas para enfraquecer a unidade dos estudantes frente aos reais problemas da educação e do nosso curso e para esvaziar pautas e espaços de luta política na universidade.
Diante desse episódio e das tentativas de deslegitimar nossa atuação, consideramos importante relembrar que a Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia carrega uma longa trajetória de lutas em defesa da educação pública e dos direitos estudantis, construída ao longo de mais de quatro décadas de atuação ininterrupta.
A ExNEPE é a entidade máxima de representação dos estudantes de Pedagogia no país. Fundada em 1981, esteve à frente das principais lutas de gerações de estudantes e pedagogos nestes 44 anos de história, tanto a nível nacional, quanto a nível local.
Colocaremos alguns dos exemplos de luta da ExNEPE nos últimos anos: 2003 – Mobilização contra a Reforma Universitária do Governo Lula.
2005 – Mobilização contra as Diretrizes Curriculares Nacionais com a ocupação do prédio do Ministério da Educação.
2007 – Mobilização contra o REUNI, com ocupações na Reitoria da USP, na UFBA, na UNIR.
2013 – Levantes populares contra a Precarização da Educação
2016 – Mobilização contra a BNCC – Base Nacional Comum Curricular e contra o NEM – Novo Ensino Médio, fazendo parte nas ocupações no estado do Paraná a primeira ocupação de uma onda que tomou conta do estado.
2017 – Mobilização contra a falsa “Regulamentação do Pedagogo” (PL 6.847/2017) com intervenções em Assembleias Legislativas e greves em 14 estados.
2019 – Luta contra a BNC-FP – Base Nacional Comum de Formação Docente.
2020 – 2022 – Organização de Projetos de Alfabetização nos bairros de vulnerabilidade junto com os Comitês Sanitários de Defesa Popular
2021 – Ocupação do RU da UFPR exigindo sua reabertura
2022 – Ocupação do Bigarella junto com estudantes de Geologia contra os cortes e precarização do curso
2022 – Apoio na ocupação do Bloco da Psicologia exigindo contratação de professores e lutando contra os cortes de verbas
2024 – Participação ativa na Greve Nacional Contra os Cortes de Verbas organizando calendário de mobilização no curso de Pedagogia e ocupando o DP I da Reitoria.
Desde quando rompemos com a União Nacional dos Estudantes (UNE) em 2004 e em razão do nosso compromisso inegociável com uma luta estudantil consequente, independente e combativa, não é novidade que, ao longo de nossa trajetória, tenhamos sido alvo de tentativas de rotulação — chamados de inconsequentes, irresponsáveis ou radicais.
A história demonstra que aqueles que se colocam à frente das transformações e enfrentam o status quo costumam ser acusados justamente para que suas lutas sejam deslegitimadas e desviadas para caminhos eleitoreiros e burocráticos, distantes das reais necessidades do povo. Por isso, mantivemos sempre a escolha da independência como princípio e método, para que nossa atuação seja feita com a seriedade, coerência e combatividade que ela exige.
Reafirmamos que nossa luta é, e sempre será, em defesa de uma universidade pública, gratuita e a serviço do povo, compromisso comprovado pelos mais de 44 anos de história da entidade, pelo nosso vasto e vitorioso histórico de lutas e pela atuação cotidiana dentro da UFPR e do curso de Pedagogia.
SOU PEDAGOGO, SOU CIENTISTA, E NÃO ACEITO O CAMINHO IMOBILISTA!
VIVA O MOVIMENTO ESTUDANTIL COMBATIVO E INDEPENDENTE!
Executiva Paranaense de Estudante de Pedagogia.