[SP] Estudantes se mobilizam em ato denunciando o apoio institucional da Unicamp à COP30 contra ‘Imperialismo Verde’

Reproduzimos matéria do Jornal A Nova Democracia.

Estudantes e trabalhadores tomaram as ruas da Unicamp (Campinas) no dia 23 de agosto em uma combativa manifestação convocada pela Frente Rubra Primavera (FRP), rechaçando o apoio da Unicamp à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em atividade realizada durante a Unicamp de Portas Abertas (UPA). A manifestação expôs não só o caráter farsesco e entreguista do evento internacional, mas também a postura servil da gestão universitária.

O programa Unicamp de Portas Abertas, evento que apresenta os cursos da universidade à comunidade, teve como tema este ano “UPA 20 anos e COP30 no Brasil: a mudança já começou”  — a universidade anunciou a programação vinculando o evento à noção de “mudança” e ao trabalho científico desenvolvido no campus. Segundo o coordenador-geral da Unicamp e responsável pela organização da UPA: “A Universidade quer convidar a comunidade a refletir sobre a importância das ações de mitigação das mudanças climáticas e mostrar o que tem sido feito a respeito.”

O discurso oficial choca com a realidade: as patrocinadoras do evento são justamente grandes mineradoras como a Vale, responsável pela catástrofe de Brumadinho e partícipe, em conjunto com a britânica BHP, do crime de Mariana. O estado do Pará é o maior em conflitos pela água, segundo o Relatório Anual de Conflitos no Campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de 2024, com 13% sendo promovidos diretamente por ações de mineração.   

Ativistas da Frente Rubra Primavera relataram à correspondência local de AND que quase mil panfletos foram distribuídos em uma marcha de cerca de 2 horas percorrendo o campus desde o Restaurante Universitário (RU), passando pelo Ciclo Básico e chegando até a Reitoria e a Faculdade de Ciências Médicas (FCM).  O recado dos ativistas da FRP aos estudantes que participavam do evento foi claro: a COP30 não é uma “conferência técnica”, mas sim um mecanismo político cuidadosamente articulado para atender aos interesses do latifúndio, das mineradoras e do imperialismo.

Por trás da retórica de “sustentabilidade” e “mitigação das mudanças climáticas”, escondem-se acordos que garantem a manutenção do saque de recursos naturais, a exploração de trabalhadores e a ampliação do controle estrangeiro sobre territórios estratégicos. A manifestação deixou claro que, enquanto a elite econômica e política se beneficia do espetáculo da conferência, as consequências reais — desmatamento, poluição, criminalização de comunidades tradicionais — permanecem sem solução, revelando o caráter elitista e oportunista da COP30. 

“Ciência” cooptada pelo imperialismo é anticientífica

Quando a produção científica é arrancada de seu contexto social e político, e convertida em mero selo de marketing, ela perde seu caráter emancipador. A COP30 funciona exatamente assim: propaganda verde que encobre a pilhagem de territórios e acordos favoráveis a mineradoras e agroindústrias.

Isso reafirma uma necessidade urgente: a autonomia crítica da produção científica dentro da universidade, um processo que inclua real participação estudantil nas decisões que envolvem parcerias e divulgação institucional.

O ato, as vozes e o diálogo com a comunidade

Em entrevista ao AND, o ativista da FRP discorre sobre o objetivo do ato e o grande apoio que tiveram das massas estudantis e trabalhadoras: “O objetivo foi recolocar o debate no chão da universidade. Na concentração no RU, foram travadas centenas de conversas com secundaristas, estudantes, professores e técnicos; e ao longo do percurso, foram abertas frentes de diálogo sobre como esses projetos e parcerias institucionais colocam a universidade pública a serviço do imperialismo e do latifúndio, ao invés de servir aos interesses e necessidades do povo como deveria.”

Durante todo o percurso, os estudantes apoiaram com gritos, palmas e punhos levantados, solidariedade dos motoristas de ônibus com buzinaços. Entre faixas e bandeiras, ecoaram palavras de ordem que expressam o espírito do ato com palavras de ordem como: “Quem destrói não vai salvar, COP30 só quer lucrar!”, “A Amazônia não é quintal, fora COP30 do território nacional!” e “A minha terra não vou perder, enquanto o povo não parar de combater!””

O ativista coloca ainda a perspectiva de luta da Frente Rubra Primavera: “A mobilização  mostrou para os acadêmicos, secundaristas e trabalhadores que a universidade não é neutra. Defender a ciência é colocá-la a serviço do povo e da soberania nacional — não como “propaganda verde” que encobre saque e destruição. Seguiremos organizados, ocupando os espaços e denunciando a farsa da COP30 e toda iniciativa de exploração do meio ambiente em nosso país a serviço do imperialismo.”

Deixe um comentário