De acordo com relatos de estudantes e professores da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a crise com a falta de professores para cursos como Ciênciada Computação, Administração, Letras e Matemática persistiu no segundo semestre de 2025. Diante desse cenário de decomposição da infraestrutura e funcionamento da Universidade, surge a pergunta: como reage a própria instituição?
Em nota, a Reitoria alertou sobre o atraso do orçamento federal de 2025, que obrigou a UFFS a executar um orçamento provisório, permitindo apenas despesas essenciais e inadiáveis. Essa situação exige esforço extra dos já precariza dos técnicos administrativos e nega à Universidade o direito de planejar seu funcionamento de forma adequada. Além disso, houve um corte de R$ 2,98 milhões na proposta do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), que já não era suficiente para o funcionamento da UFFS conforme o planejamento institucional.
Em 30 de abril de 2025, os serviçais do Banco Mundial e do latifúndio decretarama lei nº 12.448, determinando o repasse do orçamento anual em parcelas mensais de apenas 5,6%, deixando 37% para dezembro, quando dificilmente seria utilizado.
Trata-se de uma velha tática para mascarar cortes e dificultar a utilização plena dos recursos, aprofundando a precarização e preparando o terreno para a privatização. Esses métodos servem aos interesses do estado latifundiário e do imperialismo, que continuam atuando independentemente do governo vigente.
Não é à toa que, somando os valores de 2024 e 2025 destinados ao latifúndio, chega-se a quase UM TRILHÃO de reais, enquanto para a educação foram destinados apenas 388 bilhões. Em 2025, ainda houve cortes em projetos assistenciais como Bolsa Família e BPC, enquanto bilhões foram destinados ao Plano Safra. Na prática, o arcabouço fiscal retira do povo para enriquecer poucos, mantendo milhões passando fome enquanto assegura lucros enormes a setores privilegiados. De crime em crime, perpetua-se o carcomido estado que chamam de democrático. Democrático para quem?
Apesar de afirmar empenho em amenizar os impactos sobre o funcionamento da universidade, priorizando a continuidade de contratos essenciais como o do Restaurante Universitário (RU), a Reitoria não conseguiu resolver problemas estruturais, como a evasão estudantil. Segundo dados do Censo de Educação Superior, a Taxa de Desistência Acumulada (TDA) entre ingressantes de todasas universidades federais de 2010 a 2015 ficou entre 49% e 52%, enquanto na UFFS chegou a 63%–68%. Além disso, faltam estudos qualitativos para entender os motivos pelos quais os estudantes abandonam seus cursos. Em conversas com os estudantes, surgem demandas claras por moradia estudantil, aumento de bolsase auxílios, café da manhã no RU e espaços de acolhimento materno.
Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU, 2022), “conjunturas econômicas desfavoráveis, gerando dificuldades financeiras” representam 66% dos casos de evasão. Nenhuma gestão da Reitoria conseguiu resolver essas questões estruturais, e a atual administração sequer deu prioridade, aceitando de cabeça baixa a agenda do arcabouço fiscal, o chamado teto de gastos do governo federal.
Para barrar os cortes, os estudantes mostram que somente a luta organizada garante seus direitos, como já demonstrou a história do movimento estudantil no Brasil e no mundo. No dia 19 de agosto de 2025, o campus UFFS-Laranjeiras do Sul foi surpreendido com o fechamento do RU. Rapidamente, os estudantes se mobilizaram em torno do DCE, realizando uma assembleia no mesmo dia e convidando a direção do campus para debater soluções. Mais uma vez, os regimes burocráticos e contratuais ineficazes se impuseram: a direção afirmou que o fechamento ocorreu “devido a uma decisão judicial que decretou a falência da empresa responsável pela sua administração, determinando a interrupção imediatadas atividades”.
O corpo estudantil reagiu com a tática mais efetiva do movimento estudantil: a greve de ocupação. Em apenas 24 horas, a maior parte das demandas foi atendida, garantindo a manutenção do RU. A recente e vitoriosa greve de ocupaçãono campus da UFFS-Laranjeiras do Sul demonstra que a luta organizada e combativa é capaz de triunfar, sendo apenas uma das inúmeras vitórias do movimento estudantil independente. Essa ação reforça que a ação radical e coletiva é fundamental para a manutenção e conquista de direitos para estudantes e trabalhadores da educação.