Nos dias 30 e 31 de agosto, estudantes da UEM, UFGD e UFPR derrubaram os muros da universidade e se colocaram ao lado do povo Avá-Guarani, em Guaíra (PR), em uma jornada de solidariedade. Foram levados alimentos, roupas, itens de higiene, medicamentos e, sobretudo, apoio político a uma comunidade que enfrenta uma guerra declarada pelo latifúndio e acobertada pelo Estado.


O grupo, formado por estudantes de Pedagogia, Enfermagem, Psicologia, Medicina, Ciências Sociais, Geografia e Economia, foi recebido com uma calorosa cerimônia de músicas, rezas e culinária tradicional, preparada pelas lideranças da comunidade. Mais do que um gesto de acolhimento, a recepção foi também uma afirmação de resistência cultural diante das tentativas históricas de silenciamento e apagamento.



A motivação imediata da ação foi o assassinato brutal de Ewerton Lopes, jovem indígena de 21 anos, decapitado em meio ao conflito agrário. Em carta, os assassinos assumiram não só esse crime, como também a execução de Marcelo Ortiz, morto meses antes, e ainda ameaçaram incendiar os ônibus com as crianças da aldeia a caminho da escola. Ameaça esta, que resulta a mais de um mês com as crianças da comunidade sem frequentarem a escola regular.
As lideranças relatam um histórico de violência como casas queimadas, tiros disparados contra moradias próximas à rodovia, ameaças de sequestro, repressão policial. A vida cotidiana é atravessada pelo terror e, ainda assim, os Avá-Guarani seguem em pé, resistindo.


Durante a missão, estudantes de enfermagem e medicina realizaram cerca de cinquenta atendimentos, encaminhando duas senhoras com suspeita de AVC à UPA. Vale lembrar que a comunidade que possui cerca de 350 pessoas têm acesso a atendimento médico apenas uma vez por semana, por apenas uma hora. É a política da omissão planejada, que nega saúde para acelerar a morte indígena.






Estudantes de pedagogia e psicologia também realizaram atividades pedagógicas e recreativas com as crianças. As lideranças Avá-Guarani denunciam que suas crianças crescem sem direito pleno à infância. Desde cedo, são obrigadas a aprender a lutar pela própria sobrevivência e a enfrentar o preconceito e a discriminação em ambientes externos, como escolas. A cada dia, são forjadas como guerreiros de uma luta que não deveria recair sobre os ombros tão jovens.








Ainda assim, a palavra que ecoa na aldeia é resistência: “Enquanto nossas terras não forem demarcadas, continuaremos lutando. Enquanto o Congresso aprovar leis anti-indígenas, continuaremos lutando”, afirmam as lideranças, que se mantêm firmes mesmo diante da violência sistemática.
A presença dos estudantes, organizada pela ExNEPe, ExPEPe, DCEs e Centros Acadêmicos, é mais do que solidariedade, é a prova de que a luta indígena é também a luta de todos os povos contra o projeto de morte do latifúndio.
Cada assassinato indígena, cada casa queimada, cada criança ameaçada carrega a marca de um sistema que protege latifundiários e criminaliza povos originários. O silêncio cúmplice da mídia hegemônica e a omissão criminosa do Estado são parte dessa engrenagem.
Temos que continuar rompendo o silêncio e os muros da universidade, estarmos a serviço do povo e isso só é possível através da luta organizada. Os Avá-Guarani não estão sozinhos e sua resistência é nossa bandeira!
VIVA A LUTA DOS AVÁ-GUARANI!
VIVA A LUTA PELA TERRA!
MORTE AO LATIFÚNDIO!
