Reproduzimos matéria do Jornal A Nova Democracia.
Nesta última quarta-feira (10/10), o Centro Acadêmico de Direito da UERJ convocou uma mesa conjunta com o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (CEBRASPO) e a Associação Brasileira dos Advogados do Povo (ABRAPO) os estudantes que foram criminalizados pela reitoria, para debater a importância e a legitimidade da luta dos movimentos estudantis.
Durante a apresentação, o CEBRASPO exaltou a luta estudantil, colocando que o direito à assistência só pode ser defendido através da luta.
A ABRAPO, organização que esteve prestando auxílio jurídico à ocupação desde seus primeiros dias, exaltou que a luta estudantil é legítima, classificando os ataques da reitoria aos direitos estudantis e a operação militar realizada para a desocupação como absolutamente ilegais, colocando que uma reintegração de posse deve ser realizada pelo oficial de justiça e não pela polícia.
Para ele, a tática utilizada contra os estudantes no último dia 20 foi uma tática de guerra proibida chamada de “Caldeirão de Hamburgo”, quando ocorre o cercamento de um grupo, forçando-o ao combate. Mesmo em alta desproporcionalidade técnica, os estudantes conseguiram superar as tática militar da tropa de choque e saíram por um meio alternativo.
Os estudantes presos na violenta desocupação relataram tudo que aconteceu no dia 20 de setembro. Ressaltaram a truculência dos agentes, que explodiram o Hall do principal pavilhão com bombas e gás. Sendo que um deles, em função de seu próprio despreparo, acabou explodindo uma bomba em suas próprias mãos, na miserável tentativa de tacá-la nos estudantes. Um dos conduzidos, lembrou que tal ocasião foi distorcida pelos policiais no depoimento na delegacia, sob a mentirosa narrativa de que um estudante teria arremessado um explosivo nos agentes.
A estudante de Enfermagem relatou como foi ser a única que foi algemada, lacrada com um enforca gato. Lamentou o silêncio por parte da direção da Faculdade de Enfermagem da UERJ (FENF) e parte do corpo docente, que se calaram diante do autoritarismo da reitoria e a repressão policial sofrida por sua própria aluna.
Durante o momento, outros estudantes de mesmo curso aproveitaram para denunciar a perseguição que ocorre no prédio da FENF, onde a direção proibiu a colagem de cartazes e faixas.
O estudante do curso de Oceanografia, relatou a dor de ver amigos que não vão conseguir permanecer na UERJ em função do Ato Executivo de Decisão Administrativa 038/2024, apelidado de “AEDA da fome” pelos alunos.
É uma medida imposta durantes as férias pela reitoria, que reduz significativamente as bolsas para estudantes em vulnerabilidade social na Universidade.
“Foi muito difícil ver os meus amigos falando que não vão mais conseguir pagar o aluguel e permanecer na faculdade. Foi uma coisa que me machucou muito”, relatou ele. Num emocionante discurso, citou a Revolta da Chibata como uma fonte de inspiração para sua luta, ressaltando o orgulho que tem do movimento estudantil.
Também à mesa, estavam 3 estudantes que foram nominalmente citados no processo de reintegração de posse. Os alunos citaram várias outras batalhas travadas recentemente na Uerj: a perseguição a estudantes negros e cotistas travada pela reitoria; a participação de paramilitares designados a agredir estudantes e instruir os guardas patrimoniais a fazerem o mesmo, também por parte da reitoria; a tentativa de desmobilização da unidade de luta por parte de forças oportunistas; a inabilidade gestacional de Gulnar e Deusdará; a dificuldade de conseguir se manter na faculdade com o corte dos auxílios e o drama que é tentar fugir da realidade violenta das favelas através dos estudos e acabar por ser criminalizado injustamente pela gestão de sua Faculdade.
Por fim, todos reafirmaram o seu compromisso com a luta estudantil, enfatizando que, a tentativa da reitoria de amedrontar e perseguir os estudantes que ousaram lutar, de nada adiantou.