[SP] Estudantes da EACH USP seguem em greve de ocupação

No dia 21 de setembro iniciou-se um movimento de greve de ocupação do prédio Titanic na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo. O movimento soma-se à greve geral que incendiou a USP no último mês, atingindo todas as faculdades e institutos da capital, começando pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), no dia 18, mas também alcançando o interior do estado, no campus de Lorena e Ribeirão Preto, em que, neste último, a mobilização foi encabeçada pela pedagogia.

Essa é a segunda ocupação na EACH este ano. A primeira, ocorrida em junho, teve duração de sete dias e oito noites e havia sido finalizada após decisão coletiva em assembleia, com balanço dos nossos ganhos na negociação com a reitoria. As reivindicações seguem as mesmas: a contratação imediata e permanente de docentes e o pagamento e reformulação do programa de permanência estudantil.

Segundo a Associação de Docentes da USP (ADUSP), o corpo docente da universidade tem encolhido cerca de 17,56% nos últimos anos, indo de 5.934, em 2014, para 4.892 em agosto de 2023. Michele Schultz, presidente da Adusp, considera que faltam pelo menos mil professores em toda USP. Ao invés de abrir novos concursos, a reitoria tem optado por contratos temporários, que são muito mais baratos e precarizam a formação acadêmica. Muitos cursos correm o risco de fechar por falta de professores, como o técnico de formação de professores, obstetrícia e pedagogia (campus Ribeirão Preto). O curso de Letras, por exemplo, carece de cerca de 100 docentes.

Foto da ocupação de junho.

Após o retorno das férias, foi realizada uma plenária em que foi aprovado a criação de grupos de trabalho para propaganda e agitação acerca da situação do campus após a desocupação do prédio. Foram realizadas reuniões com a diretoria da EACH, a Comissão de Inclusão e Pertencimento (CIP), uma envolvendo os três setores (docentes, discentes e funcionários), inclusive com a participação da presidente da Adusp e de diretores do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP). Houveram também encontros online com a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lanna, nas quais a mesma chegou a afirmar que não seria possível atender a USP Leste e que os discentes queriam privilégios. Mesmo depois de todas essas reuniões, com apresentação de um documento elaborado pelo movimento estudantil com uma proposta de remodelamento total do programa de permanência, os estudantes foram categoricamente ignorados.

Portanto, é muito forte o sentimento de frustração com a reitoria, por não ter cumprido com a palavra após as negociações da ocupação de junho. Mas não só: também é grande a sensação de revolta pelo descaso com as reivindicações estudantis e de não aceitar menos do que o mínimo estabelecido. A tudo isso se segue a necessidade de manter a mobilização, até o fim. Na assembleia do dia 30 de agosto, todo o andamento das movimentações foi repassado e votado um indicativo de uma nova ocupação a começar na semana do dia 18 ao dia 22 de setembro, mirando o indicativo de paralisação de outros campus durante a mesma semana. E logo se viu um grandioso e histórico cenário de greve geral na USP, uma importante expressão da força do movimento estudantil.

A experiência dos estudantes da EACH, com o acúmulo da primeira ocupação e o fato de estarem presentes e mantendo a universidade mobilizada com diversas atividades políticas e culturais, e não em em suas casas com as portas da faculdade fechadas, permite avanço da luta em diversos tópicos: o aprendizado teórico sobre as questões negociadas é enorme e hoje os estudantes conseguem desmentir, em questão de segundos, as mentiras usadas como argumento por parte da Reitoria. Há também o esforço para mostrar à comunidade que o objetivo do movimento não é restrito à academia, e sim derrubar os muros da USP que mantém segregada toda a população local.

A mobilização têm se ampliado e intensificado a cada dia, destacando-se, por exemplo, a presença em assembleias na Unicamp e UFABC, de um ato no Instituto de Artes da UNESP em apoio a ocupação da EACH e em denúncia de sua situação e durante o evento institucional “USP Pensa Brasil”, onde a Reitoria e Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP foi publicamente constrangida com as denúncias dos estudantes. Além de manifestações na Reitoria e organizadas pelos estudantes da USP Oeste.

No dia 4 de outubro, ocorreu uma reunião com o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior, o Fujão, para negociação, no qual ele se comprometeu com a contratação de 1027 docentes em toda a USP, aumentando a antiga promessa não cumprida, de 876. Essa é uma importante vitória da luta dos estudantes, que ocorre há anos e que hoje unifica sua revolta através da greve de ocupação e, em poucas semanas, obtém tantas conquistas.

Todavia, a movimento não se encerrou, ainda é necessário que o reitor oficialize esse compromisso com os estudantes, para que não se torne palavra-morta. E restam outras pautas que não foram discutidas, em especial, a reformulação do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) e reivindicações específicas do campus Leste, que atende estudantes de camadas mais pobres de São Paulo.

A expectativa é que na segunda-feira, dia 9, ocorra a próxima e derradeira negociação das demandas restantes. Até lá, a EACH segue firme mobilizando e dando exemplo com sua combativa greve de ocupação.

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