Veja como foi o processo e o dia-a-dia da ocupação do Colégio Manoel Beckman
No dia 20/06, quarta-feira, os secundaristas do Centro Educacional Manoel Beckman, em São Luís do Maranhão, dirigidos pela atual gestão do grêmio, Gestão “Preto Cosme”, ocuparam sua escola, assumindo com a audácia a tarefa de dar início ao desencadeamento do movimento de greves de ocupações nas escolas do país, como principal arma para barrar o “Novo” Ensino Médio e de conquistar suas demandas mais imediatas.
Numa vitoriosa ocupação que durou dois dias, os estudantes estremeceram sua escola por sua combatividade, independência e decisão por enfrentar os sinuosos caminhos que se apresentavam.
A greve tomou tamanha proporção que, logo no segundo dia, os estudantes foram respondidos com a chegada no local de representantes da Secretaria de Educação do Governo do Estado do Maranhão (SEDUC), que tiveram de assinar a carta compromisso de suas demandas mais imediatas tiradas em Assembleia, como por exemplo, a garantia da construção da quadra poliesportiva, negada aos estudantes há mais de 20 anos, e o direito a atendimento psicológico para os alunos. Viva a vitoriosa Ocupação do colégio Manoel Beckman! Viva o movimento estudantil classista e combativo!
Como forma de propagar esta luta, relataremos como foi o processo e o dia-a-dia da ocupação.
Pré-ocupação (19 e 20/06)
Os secundaristas, revoltados com a imposição do “Novo” Ensino Médio na sua escola, se organizaram para o enfrentamento a esse ataque profundo à educação pública brasileira. Tendo que ter aulas dos “itinerários formativos” ao invés de aulas com conteúdos verdadeiramente científicos, como “projeto de vida”; observando a precarização das salas de aulas e em relação aos professores serem obrigados a ter que dar essas mesmas aulas sem condições materiais; o esvaziamento científico cada vez maior do currículo; a lida diária com salas de aula caindo aos pedaços, com ar condicionados quebrados e sem possuírem um espaço adequado para interação esportiva, como uma quadra poliesportiva, decidiram, de forma soberana, depois de duas assembleias massivas, pelo turno matutino e vespertino contando com a presença de professores e responsáveis, a aprovação de uma carta-compromisso para enfrentar essas injustiças e reivindicar suas demandas através de uma greve de ocupação.


20/06, 1° dia
No dia 20 de junho de 2023, aproximadamente às 8:30, no pátio da escola, os secundaristas declararam o início da ocupação, realizando um ato simbólico com agitação, leitura do panfleto de suas demandas, e exposição da faixa “GREVE DE OCUPAÇÃO, EM DEFESA DA EDUCAÇÃO”.


Após, saíram pela escola ornamentando o espaço com faixas e cartazes, dando o teor da ocupação e das suas demandas imediatas. Simultaneamente, no auditório , onde ocorreria as sucessivas atividades do dia, também realizavam a decoração e organização dos espaços




Demonstrando que greve de ocupação não é paralisação, os estudantes montaram um cronograma de luta carregado de atividades. A primeira do dia foi um aulão pré-vestibular de história com o tema: “Golpe militar de 1964”. O aulão, que aconteceu nos dois períodos, matutino e vespertino, foi saudado pelos estudantes, demonstrando que os mesmos querem sim ter acesso ao conhecimento científico acumulado historicamente pela humanidade, e não aulas desavergonhadas dos itinerários formativos.
Momento emblemático no aulão foi a fala pungente de uma estudante que enfatizou a importância dos secundaristas não deixarem a luta morrer e tomarem como exemplo as lutas dos estudantes de 1964 e 2013. No trecho do seu discurso ela coloca:
“Os grandes pensam que nós estamos aceitando essa situação, mas não é o caso, a gente tem que se movimentar, se erguer, porque os que estão no governo agora, por mais que se dizem de esquerda, eles não estão ligando para nossa revolução, então a gente tem que fazer barulho, temos que mostrar que não estamos aceitando, que somos revolucionários de fato e que a luta não vai acabar.”


O dia contou também com roda de conversa sobre hip-hop e grafite, com participação de artistas locais. Demonstrando a importância de propagar a arte e cultura popular no ambiente escolar. Pela noite, após a janta e limpeza do espaço, organizaram-se no auditório para dormir.
No primeiro dia os ocupantes demonstraram firmeza e organização, convictos que o caminho certo para defender a sua escola e uma educação pública, gratuita e democrática é o da luta, não do imobilismo.


21/06, 2° dia
No segundo e último dia de ocupação, a greve tomou os holofotes, os estudantes receberam notas e mensagens de apoio dos mais distintos movimentos, sindicatos e frentes contra o “Novo Ensino Médio” de norte a sul do país.
A atividade que deu início a manhã foi um debate sobre os 10 anos das Jornadas de junho de 2013, onde colocou mais de 80 estudantes no auditório. No discurso, houve uma exposição do convidado à mesa do “Coletivo Estudantil Filhos do Povo”, acerca do entendimento das Jornadas. Foi colocado que, para entender a profundidade dos levantamentos populares de tamanha magnitude, fazia-se necessário compreender a história do país, passando pela dominação colonial e imperialista, dos golpes de estado e o extermínio ininterrupto das massas em luta pelos mais elementares direitos.
Foi especialmente dado atenção ao período recente da chamada “redemocratização” que, após a “Constituição cidadã de 1988”, culminou em promessas sociais de teto, terra, trabalho etc., que não foram entregues para o povo. Coloca-se que 2013 é a culminação de uma série de indagações sociais com as falsas promessas, especialmente do gerenciamento petista, desbocando em uma legítima expressão da insatisfação generalizada das massas populares contra a velha ordem social como um todo. Foi colocado também que aqueles que querem transformar verdadeiramente a realidade, não podem temer ou criminalizar as revoltas espontâneas do povo. Para mais informações, o jornal A Nova Democracia noticiou esse debate: https://anovademocracia.com.br/ma-vitorioso-debate-sobre-as-jornadas-de-junho-de-2013-em-ocupacao-secundarista/


Ao terminar o debate os estudantes já estavam se organizando para um ato simbólico em frente a escola para exigir a assinatura da gestão a carta compromisso das demandas, e foram surpreendidos com a chegada de representantes da Secretaria de Educação do Governo do Estado do Maranhão (SEDUC). A chegada do orgão estatal significou muito para os estudantes, pois demonstrava que a greve de ocupação já estava atingindo cumes que nem imaginavam, assim demonstrando o temor e o medo do estado dos caminhos que aquela luta estava tomando.
Assim sendo, o ato simbólico acabou se tornando uma reunião emblemática com a gestão da escola e com a SEDUC. Contando com a presença absoluta dos estudantes no auditório, a reunião também contou com apoio de entidades como, Jornal A Nova Democracia, Centro Acadêmico de Ciências Sociais – UFMA, Diretório Academico de Comunicação Social – UFMA, Comite Maranhense pela Revogação do Novo Ensino Médio.
Frente aos representantes da Secretaria do Estado, que estavam inicialmente agindo de modo debochado para com os estudantes, inclusive chegando a desvalidar as demandas estudantis levantadas na Assembleia, os estudantes responderam à altura, demonstrando que o estudante não é covarde e nem mesmo massa de manobra.
Os representantes do Grêmio Preto Cosme leram em voz alta a carta compromisso, sendo puxado gritos de guerra e aplausos a cada demanda lida. Após, os estudantes realizaram falas efusivas acerca da condição precária da sua escola e da realidade danosa do “Novo” ensino médio, exigindo ao Estado e a gestão a responsabilidade de acatar suas demandas.
Ao fim, a SEDUC assinou, por conta da pressão estudantil, a carta compromisso das demandas, e selou um acordo a curto, médio e longo prazo que levou uma grande vitória à Ocupação, sendo a construção da quadra poliesportiva que sempre foi prometida e nunca foi entregue e o direito a atendimento psicológico para os alunos.
LIVE DA REUNIÃO COM A SEDUC: https://www.instagram.com/p/CtzIo1bofHo/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA==


Os estudantes, logo após a vitória, realizaram um balanço e decidiram continuar as atividades da ocupação. Sendo a última uma oficina de grafite, onde os alunos juntamente aos artistas realizaram um mural na sala onde os estudantes intitularam de “Sala Carlos Sobrinho”, nome em homenagem ao professor que havia falecido. Esta sala foi outra grande vitória da ocupação, sendo o espaço democrático à disposição de toda comunidade, integrando os estudantes.
Uma das artistas explicou o motivo e o significado do mural realizado:
“Arte à serviço dos estudantes em Ocupação, inspirada em representações da juventude combatente que luta no país. Fiz o mural em apoio à greve de ocupação no C.E. Manoel Beckman pela revogação do “Novo” ensino médio e a fim de exaltar os princípios de classismo, independência e combatividade e as consignas de apoio à luta pela revolução agrária, inseparáveis do novo movimento combativo estudantil. Arte de Nova Cultura para mostrar que “de novo não tem nada, o “novo” ensino médio na verdade é uma cilada!”.



Na parte da noite os ocupantes realizaram uma reunião final, e entendendo que haviam dado um primeiro passo vitorioso na Ocupação, decidiram por cessar a Greve. Enfatizaram em nota que mesmo com o fim da ocupação o que não faltaria seria cobrança e exigência dessas promessas. Veja um trecho da nota publicada:
“Gostaríamos de agradecer aos estudantes que mantiveram-se firmes na luta pelos seus direitos, demos uma demonstração da nossa capacidade de combatividade, independência e classismo. Saudamos a todos os estudantes, professores e democratas consequentes que apoiaram, participaram e divulgaram nossa primeira Ocupação vitoriosa. Saudamos a juventude combatente desse país que a cada dia demonstra estar ao lado do povo na sua luta verdadeira.”
Para mais leia na íntegra: https://www.instagram.com/p/Ct0RpZ4tfIm/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA==
A retirada dos ocupantes foi feita de forma simbólica e ordenada, estendendo uma faixa com o intuito de confirmar que voltarão mais MAIS FORTES E MAIS PREPARADOS!

VIVA A OCUPAÇÃO DO COLÉGIO MANOEL BECKMAN!
GREVE DE OCUPAÇÃO, EM DEFESA DA EDUCAÇÃO!!
VIVA A LUTA COMBATIVA, INDEPENDENTE E CLASSISTA!